Darwin ‘fast forward’



Algumas espécies estão a evoluir de uma forma muito mais rápida do que Darwin imaginou. Há já alguns anos que os cientistas vêm a desenvolver estudos sobre a forma como as alterações ambientais podem desencadear um fenómeno de “evolução rápida” nas espécies, e já são vários os exemplos na Natureza de animais que adoptam novas características para sobreviver em novas condições do meio ambiente em que se encontram.

A BBC publicou recentemente várias pequenas histórias de espécies de animais que assistiram a esta chamada “evolução rápida”. É o caso de uma espécie de lagarto no Brasil que desenvolveu uma cabeça maior em apenas 15 anos – muito pouco tempo em termos evolutivos -, segundo um novo estudo publicado na PNAS, a revista da Academia de Ciências dos Estados Unidos.

“E ainda que se conheçam outros exemplos de evolução rápida, o caso do lagarto é excepcional, porque mostra o impacto da actividade humana na transformação das espécies”, relata a BBC. Tudo começou com a inundação de uma área de cerrado na cidade de Minacu, em Goiás, provocada pela construção da Barragem Serra da Mesa que criou cerca de 300 pequenas ilhas nas partes mais altas do terreno, fazendo desaparecer muitas espécies de lagartos.

Acontece que uma espécie de lagarto mais pequeno, o Gymnodactylus amarali, que se alimenta de insectos, continuou presente em algumas das ilhas. E os insectos como os cupins (Isoptera), antes consumidos apenas por répteis grandes, passaram a ficar “disponíveis” para esses animais menores. “Só que havia um grande problema. As cabeças pequenas dos lagartos, de apenas um centímetro de largura, eram quase do mesmo tamanho dos cupins”. Foi aí que aconteceu algo surpreendente: a cabeça destes pequenos lagartos cresceu cerca de 4% face a outros elementos da sua espécie, que viviam em zonas não isoladas. Esta nova condição foi verificada pela equipe da bióloga brasileira Mariana Eloy de Amorim, da Universidade de Brasília (UnB).

A pergunta que se seguiu foi: “Mas por que o corpo todo não cresceu?”

“O motivo é que os corpos maiores demandam mais energia para se manter. Assim, esses répteis perderiam a vantagem potencial de ter mais alimento disponível se tivessem que consumir mais comida”, explicou Janet Hoole, professora de biologia da Keele University, na Inglaterra à BBC. E porque o mesmo fenómeno evolutivo ocorreu nos lagartos de todas as cinco ilhas estudadas, para Hoole, “isso sugere que aumentar o tamanho da cabeça, sem crescer o tamanho do corpo, é a forma mais eficiente de aproveitar a oportunidade de uma dieta mais variada que a usual para essa espécie”.

Outros casos de evolução rápida são as aves fringilídeos das Ilhas Galápagos, que Charles Darwin estudou para formular a teoria da evolução das espécies; e as ovelhas da raça soay, uma raça é nativa da ilha de Soay (Escócia), cujo tamanho diminuiu em apenas 25 anos; ou da anolis verde (Anolis carolinensis), lagartixa na Flórida que foi viver nas copas das árvores, num período de 20 gerações, devido à chegada de outra espécie muito maior, o anolis marrom cubana.

E se a mudança no tamanho da cabeça e na boca dos lagartos parecer algo positivo, “devemos nos lembrar de que isso ocorreu devido à extinção de outras quatro espécies devido às inundações provocadas pela represa”, adverte Hoole.

“É um lembrete oportuno de que as alterações climáticas não são o único desafio para a biodiversidade e para os processos evolutivos”.

Foto: Renato Gaiga (via Creative Commons)





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