De secas a dilúvios: Ciclo global da água cada vez mais “errático e extremo”

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alerta que o ciclo global da água está a tornar-se cada vez mais “errático e extremo”, variando entre secas numa ponta do planeta e dilúvios na outra.
Num relatório divulgado esta quinta-feira, no qual é avaliado o estado dos recursos hídricos globais, os especialistas avançam que em 2024 apenas um terço das bacias hidrográficas em todo o mundo apresentaram “condições normais”. As restantes estiveram acima ou abaixo do normal, no que descrevem como “o sexto ano consecutivo de evidente desequilíbrio”.
Adicionalmente, apontam que todas as regiões com glaciares sofrerem perdas devido ao degelo pelo terceiro ano consecutivo, com uma perda de água equivalente a 180 milhões de piscinas olímpicas, acrescentando 1,2 milímetros ao nível global do mar. As principais perdas de massa glaciar registaram-se na Escandinávia, em Svalbard e no norte asiático, enquanto na Colômbia, perto dos trópicos, os glaciares sofreram uma perda de 5% em 2024.
A bacia do Amazonas e outras áreas da América do Sul, bem como a região meridional de África, enfrentaram secas severas no ano passado. Esse cenário contrasta com “condições mais húmidas do que o normal”, refere o relatório, na África central, oriental e ocidental, em partes da Ásia e na Europa central.
Na região tropical africana, chuvas mais intensas do que é habitual causaram, em 2024, cerca de 2.500 mortes humanas e obrigaram à deslocação de quatro milhões de pessoas. Na Ásia e no Pacífico, enxurradas e ciclones resultaram em mais de mil fatalidades, e o Brasil experienciou ambos dos extremos: cheias no sul que provocaram 183 mortes e a continuação da seca na bacia amazónica, que afetou quase 60% do território desse país.
“A água sustenta as nossas sociedades, alimenta as nossas economias e é a base dos nossos ecossistemas. Contudo, os recursos hídricos do mundo estão sobre uma pressão crescente e, ao mesmo tempo, perigos extremos relacionados com a água estão a ter impactos cada vez maiores nas vidas e modos de subsistência”, afirma, citada em nota, Celeste Saulo.
Para a Secretária-geral da OMM, “informação confiável e baseada em evidências científicas é mais importante do que nunca, porque não podemos gerir o que não medimos”.
Os especialistas explicam também, no relatório, que o fenómeno meteorológico El Niño afetou as principais bacias hidrográficas em 2024, o ano mais quente desde que há registos, contribuindo para secas na região norte da América do Sul, na bacia do Amazonas e na África meridional.
Ainda, quase todos os principais lagos do mundo apresentaram, em julho do ano passado, temperaturas “acima ou muito acima” das normais para a altura do ano, o que afetou a qualidade da água.