Declínio das populações de ursos-polares diretamente causado por alterações climáticas
Uma equipa de investigadores alerta que o degelo provocado pelo aumento da temperatura está a levar à redução de população de ursos-polares (Ursus maritimus) na região oeste de Hudson Bay, no nordeste do Canadá.
Num artigo publicado esta semana na revista ‘Science’, os cientistas dizem que a perda de gelo, que os ursos usam como plataformas para caçarem focas, importantes fontes de proteína e gordura e que estão entre as suas principais presas, está a obrigar os ursos dessa população a passarem mais tempo em terra, onde o alimento é escasso.
“Isso afeta negativamente o equilíbrio energético dos ursos”, explica Louise Archer, da Universidade de Toronto em Scarborough e primeira autora do estudo, o que tem impactos ao nível da reprodução e da sobrevivência das crias e, em última instância, provoca declínios populacionais.
A investigação passou pela análise de dados sobre o consumo energético de ursos-polares de Hudson Bay, desde que são crias até à idade adulta, entre 1979 e 2021. Durante esse período, essa população perdeu quase metade dos seus membros, o peso médio das fêmeas foi reduzido em 39 quilogramas (kg) e o das crias de um ano de idade em 26 kg.
As crias parecem ser as que mais sofrem. Isto, porque, como explicam os cientistas, a falta de gelo obriga a períodos de caça mais curtos, a menor probabilidade de captura de presas e, no final de contas, a uma menor ingestão de proteínas. Por isso, as progenitoras produzem menos leite, comprometendo o bom desenvolvimento das suas crias.
Além disso, dadas as condições adversas, as fêmeas estão a gerar menos crias e essas tendem a permanecer durante mais tempo com as progenitoras, uma vez que o desenvolvimento deficitário não lhes permite sobreviverem sozinhas na altura em que seria “normal” deixarem a família.
“É muito simples: a sobrevivência das crias impacta diretamente a sobrevivência da população”, sentencia Archer, em comunicado. E o mesmo perigoso fenómeno poderá estar a acontecer noutras populações de ursos-polares pelo mundo fora, considerado a ubiquidade dos efeitos das alterações climáticas.
“Há razões para crer que o que está a acontecer aos ursos-polares nesta região está também a acontecer aos ursos-polares noutras regiões, com base nas previsões sobre a perda de gelo marinho”, salienta a investigadora.