Desaparecimento de invertebrados pode causar aumento de pragas e reduzir decomposição de matéria orgânica no solo



Os invertebrados, como insetos, caracóis e lesmas, nemátodos e outros artrópodes representam cerca de 75% de todas as espécies que hoje se conhecem na Terra. Apesar de pequenos, e vistos com maus olhos por muitos, estes animais são fundamentais para o bom funcionamento dos ecossistemas.

Entre os principais serviços que prestam, incluindo a nós, humanos, contam-se a polinização de espécies vegetais, a decomposição de matéria orgânica que enriquece os solos com nutrientes e outros compostos, e o controlo natural de outras espécies que, sem essa predação, podem tornar-se pragas.

No entanto, a expansão urbana, a simplificação das paisagens e a intensificação das práticas agrícolas, com recurso a químicos poluentes e à destruição de habitats, estão a provocar um declínio global dos invertebrados. À medida que esses seres desaparecem, a decomposição de matéria orgânica e o controlo de pragas podem ficar seriamente comprometidos.

Num artigo publicado esta semana na revista ‘Current Biology’, uma equipa de investigadores de vários países europeus fez soar os alarmes e pede medidas urgentes para proteger as comunidades de invertebrados, para que sejam possível manter os serviços de ecossistema fundamentais.

Através de uma séria de experiências em laboratório, que pretenderam simular habitats naturais, os investigadores perceberam que à medida que o número de invertebrados diminuía, também diminuíam os serviços de ecossistema. Assim, o declínio das comunidades de invertebrados acima do solo era acompanhado pelo aumento exponencial das populações de afídios (ou pulgões), pequenos animais que, em excesso, podem causar danos graves às espécies vegetais, incluindo às que são plantadas para consumo humano.

Mini-ecossistemas criados pelos investigadores para estudarem os efeitos do declínio dos invertebrados em laboratório.
Foto: Anja Schmidt / coautora do artigo

Além disso, a equipa de cientistas verificou também que a redução das comunidades de invertebrados acima do solo afetava negativamente a quantidade de matéria orgânica decomposta, um serviço que é essencial para assegurar o ciclo de nutrientes e manter a fertilidade dos solos.

“Processos acima e abaixo do solo são ligados por invertebrados que consomem plantas e resíduos de folhas”, explica Jes Hines, da Universidade de Leipzig e uma das autoras do artigo. Segundo a investigadora, “a perda dessas ligações alterará o ciclo de nutrientes e a quantidade de carbono que pode ser sequestrada nos ecossistemas”.

Quando, nos ambientes simulados, os cientistas reduziram as populações de predadores invertebrados, assistiram à proliferação de afídios, que em grande número podem devastar habitats e culturas agrícolas.
Foto: Anja Schmidt / coautora do artigo

Por sua vez, Nico Eisenhauer, primeiro autor, salienta que “num ecossistema saudável, propriedades bióticas e biogeoquímicas andam lado a lado”. Diz o cientista, da Universidade de Leipzig e também investigador do German Centre for Integrative Biodiversity Research (iDiv), que “este estudo mostra que uma redução da biomassa de invertebrados acima do solo reduz essa ligação, o que poderá ameaçar a diversidade das espécies, bem como a nutrição dos animais, plantas e microrganismos”.

Ainda assim, os investigadores acreditam que nem tudo está perdido, e que se forem implementadas as medidas adequadas é ainda possível ajudar a proteger e a recuperar as comunidades de invertebrados, bem como os serviços de ecossistema que eles fornecem e ajudam a manter.





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