Descoberta espécie rara de fungo “tímido” que pode estar já ameaçada pela destruição das florestas antigas da Europa



Os fungos do género Piloderma são considerados comuns, sendo encontrados maioritariamente no hemisfério norte. A cor dos seus cogumelos, o corpo frutífero dos fungos e a porção que tendencialmente vemos por estar acima do solo, varia entre o amarelo, o branco e o castanho-escuro.

Contudo, apesar da sua ampla distribuição, ainda há muito por descobrir sobre eles. Prova disso é o facto de uma equipa de investigadores europeus ter descoberto cinco novas espécies de Piloderma aqui mesmo na Europa, onde muitos podem achar que todos os mistérios do mundo natural foram já desvendados.

Estes fungos vivem em relações íntimas com as árvores nas florestas que habitam, ligando os seus filamentos às raízes arbóreas no que é chamado de micorriza. É uma relação de ganho mútuo, na medida em que os fungos ajudam as árvores a absorverem água e nutrientes, recebendo açúcares em troca. São, por isso, um elemento central dos ecossistemas florestais.

Num artigo publicado na revista ‘Fungal Biology’, os investigadores descrevem essas cinco novas espécies de Piloderma, depois de, no ano passado, a mesma equipa ter descoberto já sete outras espécies desse género que ainda eram desconhecidas da Ciência.

“Há muito tempo que temos visto o quão importantes as espécies Piloderma parecem ser na simbiose micorrízica, e que a diversidade de espécies deste género excede largamente o número de espécies nomeadas”, aponta, em comunicado, Martin Ryberg, da Universidade de Uppsala (Suécia) e um dos principais autores do artigo.

Uma das novas espécies, batizada com o nome científico Piloderma fugax, foi encontrada perto da cidade de Gällivare, no norte da Suécia, e na região de Trondelag, no centro da Noruega.

O pequeno fungo Piloderma fugax visto ao microscópio.
Foto: Svantesson et al., 2025

De acordo com os investigadores, parece tratar-se de uma espécie relativamente rara, uma vez que, em contraste com outras espécies do mesmo género, só foi encontrada em florestas antigas. Além disso, é uma espécie pequena e difícil de detetar, razão pela qual os cientistas a batizaram com o nome fugax, palavra latina que significa tímido, escondido ou fugaz.

“É interessante, mas ao mesmo tempo assustador, ver que num género como o Piloderma, onde antes achávamos que todas as espécies eram comuns, existem espécies escondidas nas florestas antigas”, afirma Sten Svantesson, da Universidade de Uppsala e primeiro autor do estudo.

É ainda mais assustador quando se percebe que algumas destas espécies só são encontradas em florestas antigas que, depois de séculos ou mesmo milénios de crescimento e resistência, estão a ser destruídas para dar lugar a áreas de cultivo. “Espero que a nossa investigação possa contribuir para que mais pessoas conheçam e se maravilhem com este tipo de espécies e de florestas”, confessa o biólogo.

Uma das outras espécies de Piloderma identificadas, na realidade, já se conhecia. No entanto, testes de ADN mostraram que o que se pensava ser apenas uma espécie afinal são duas, pelo que da conhecida P. byssinum emergiu uma nova, a P. luminosum.

“Estas duas espécies crescem muitas vezes mesmo ao lado uma da outra e aparecem frequentemente em amostras de solo e de pontas de raízes”, explica Svantesson. “Ao distingui-las como espécies diferentes, a sua diferenciação pode agora ser investigada: se desenvolveram nichos diferentes ou se outros fatores levaram a que uma espécie original se tornasse duas”, acrescenta.





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