Descobertas novas espécies de ouriços. Mas estas não têm espinhos
Quando pensamos em ouriços, pequenos animais que se enrolam em bolas de espinhos são das primeiras imagens que se formam na nossa mente. No entanto, uma equipa de cientistas identificou duas espécies totalmente novas para a Ciência que pertencem a essa família, mas que estão desprovidas dessa defesa contra predadores.
Num artigo publicado na revista ‘Zoological Journal of the Linnean Society’, os investigadores revelam que as descobertas da Hylomys vorax e da H. macarong foram possíveis graças a análises genéticas de espécimes conservados nas coleções de história natural da Instituição Smithsonian e da Universidade de Drexel. Embora os indivíduos estivessem guardados em gavetas há 84 e 62 anos, respetivamente, só agora os cientistas foram capazes de identificá-los como pertencendo a espécies completamente novas.
Os especialistas consideram que ambas as espécies são endémicas do sudeste asiático, mais especificamente das florestas tropicais que cobrem o norte da ilha de Sumatra e o sul do Vietname. O H. vorax, com uma pelagem castanha, pode medir cerca de 12 centímetros de comprimento, tem uma cauda totalmente preta e só pode ser encontrada no Monte Leuser, no nordeste da ilha de Sumatra, na Indonésia.
Segundo a organização ambientalista Rainforest Action Network (RAN), Leuser é um dos últimos grandes hotspots de diversidade biológica, ameaçado pela desflorestação que está a empurrar muitas espécies para a extinção.
Por sua vez, o H. macarong é ligeiramente maior, com 14 centímetros, também com pêlo castanho-escuro e é vive no sul do Vietname. A espécie foi batizada com um nome científico que, segundo os autores do artigo, remente para a palavra vietnamita para ‘vampiro’ (Ma cà rồng), devido aos incisivos longos que fazem lembrar os caninos salientes dessas criaturas míticas.
Além das novas espécies, a equipa identificou outras três, que já eram conhecidas mas que estavam classificadas como subespécies. Através do estudo do seu ADN e da sua morfologia, confirmou-se que a H. dorsalis, a H. maxi e a H. peguensis são espécies de direito próprio, e não subespécies, como até então se pensava, da H. suillus.
O que são ouriços sem espinhos?
Os investigadores explicam, em comunicado, que os ouriços sem espinhos, são pequenos mamíferos da família dos ouriços, os Erinacídeos, à qual também pertencem os que têm espinhos, como o ouriço-cacheiro.
Ao invés de espinhos a cobrir o dorso, têm pêlo macio, e exibem um focinho pontiagudo, especialmente adaptado, através de muitos anos de evolução, para encontrar e desenterrar invertebrados dos quais se alimentam. Assim, as espécies de ouriços sem espinhos podem parecer-se mais com ratos e musaranhos do que com verdadeiros ouriços.
Ao contrário dos parentes com corpos espinhosos mais comuns, que são sobretudo notívagos, os ouriços de pêlo macio podem estar ativos tanto durante do dia como durante a noite. São também omnívoros, o que significa que podem comer invertebrados e frutas consoante a disponibilidade de alimento.
Dizem os investigadores que, “com base nos estilos de vida dos seus parentes próximos e em observações no terreno”, os ouriços de pêlo macio provavelmente farão os seus ninhos em tocas no solo e caminham, quase impercetíveis, por entre as folhas caídas, as raízes de árvores, troncos mortos e rochas, em busca de alimento.
Arlo Hinckley, primeiro autor do artigo, refere que “por estarem tão pouco estudados, só podemos especular sobre os pormenores da sua história natural”.
Embora os mamíferos sejam um dos grupos de animais mais bem estudados, Melissa Hawkins, que também assina o trabalho, considera que há ainda muito por descobrir, especialmente acerca dos “animais noturnos mais pequenos que podem ser difíceis de distinguir uns dos outros”.