Descobertos fósseis de musgos na região de Torres Vedras. São os primeiros a serem identificados em Portugal



Na jazida fossilífera de Catefica, no concelho de Torres Vedras, uma equipa de investigadores, incluindo o português Mário Miguel Mendes, investigador do MARE/ARNET da Universidade de Coimbra, descobriram o que dizem ser os primeiros fósseis de musgos alguma vez descritos em Portugal.

O trabalho paleontológico, cujos resultados foram apresentados num artigo publicado recentemente na revista ‘Fossil Imprint’, revelou sete novas espécies até então desconhecidas da Ciência. As novas espécies agora descritas pertencem a seis géneros atribuídos a quatro ordens de musgos que ainda hoje existem: Sphagnales, Polytrichales, Diphysciales e Dicranales.

Imagem de filídeos de Chlorosphagnum cateficense, da ordem Sphagnales, do Cretácico de Catefica.
Escala = 500 µm (a, b).
Foto cedida por Mário Miguel Mendes.

A equipa estima que os fósseis encontrados tenham cerca de 110 milhões de anos, ou seja, terão sido formados entre o Aptiano e o Albiano, duas Idades do Cretácico inferior. Isso significa que as ordens destes musgos fossilizados existem, pelo menos, desde esse período geológico.

O que torna estas descobertas ainda mais fascinantes é o facto de a fossilização de musgos ser algo “extremamente raro”, conta-nos Mário Mendes, acrescentando que “ao que se sabe, em Portugal nunca haviam sido reconhecidos musgos fósseis até ao momento. Estes são os primeiros”.

Além disso, até ao momento não havia registos de fósseis de musgos antes do período Carbonífero, há 360-300 milhões de anos, pelo que a descoberta antecipa em cerca de 200 milhões de anos a ocorrência dessas plantas.

Musgos: plantas ‘primitivas’ mas com grande importância ecológica

Os musgos pertencem a um grupo de seres conhecidos como briófitos, que, embora possam muitas vezes não merecer a devida consideração, são fundamentais para a estabilidade e sustentabilidade dos ecossistemas e habitats dos quais fazem parte.

São tipos de plantas mais rudimentares, quando comparadas com as plantas vasculares, pois “não apresentam sistema condutor diferenciado, pelo que, não possuem verdadeiras raízes, caules e folhas, mas sim rizóides, caulóides e filídeos”, diz o cientista.

Como tal, encontrar fósseis de musgos não é algo que aconteça com muita frequência, pois os seus tecidos são mais frágeis e, por isso, degradam-se facilmente, dificultando a sua fossilização, que só acontece “em condições muito especiais”, salienta Mário Mendes.

Nos primeiros tempos do Cretácico, a composição da flora era praticamente uma continuação da do período antecedente, o Jurássico, que, mais tarde, ficou marcado pela emergência e disseminação das plantas com flor, as angiospérmicas, que deram início a uma “transformação profunda” do planeta Terra e à flora moderna.

A equipa, além de Mário Mendes, contou também com investigadores do Swedish Museum of Natural History de Estocolmo (Suécia), da Universidade de Aarhus (Dinamarca), da Universidade de Yale (Estados Unidos da América), do National Museum Prague (República Checa) e, mais recentemente, da Universidade de Münster (Alemanha). O grupo tem vindo a estudar a composição das floras do Cretácico português com o objetivo de “compreender a composição florística existente à época e, consequentemente, as condições paleoclimáticas que presidiram ao aparecimento e evolução das plantas com flor”, diz-nos o português.

Mário Mendes considera que “os trabalhos que temos realizado em diversas jazidas fossilíferas do Cretácico inferior da Bacia Lusitânica têm permitido reconhecer a ocorrência de grupos vegetais já extintos, mas, também, as fases de apogeu e antiguidade de muitos grupos de plantas existentes na flora moderna”.





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