Desinformação pode ser obstáculo à transição energética, alertam cientistas
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O crescimento das energias de fontes renováveis é apontado como indispensável para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e para mitigar as emissões de gases poluentes que estão a dar cada vez mais força às alterações climáticas.
Contudo, informação incorreta sobre as renováveis pode estar a criar obstáculos à expansão e aceitação pública dessas alternativas energéticas, segundo trabalho de uma equipa de investigadores divulgado na ‘Nature Communications’.
A investigação teve por base inquéritos feitos na Austrália, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, em que a três mil participantes foi pedido que dissessem em que grau concordavam ou discordavam com 16 afirmações cientificamente incorretas ou enganadoras sobre turbinas eólicas.
Os resultados mostram que quase 80% do total de respondentes acredita em pelo menos uma dessas afirmações, perto de 30% concorda com metade ou mais, e cerca de 5% está de acordo com todas elas. No artigo, os investigadores avançam que 15% dos respondentes concordou com a afirmação falsa que dizia que os cabos elétricos nos parques eólicos causam cancro e mais de 40% disse acreditar que existem acordos secretos entre políticos e outros agentes relativamente à expansão desses parques.
“Ficámos surpreendidos por uma mesma pessoa concordar com afirmações falsas sobre temas muito diferentes”, diz, em comunicado, Kai Sassenberg, do Instituto Leibniz de Psicologia e um dos autores do estudo, que aponta ainda que as pessoas que acreditam que as turbinas eólicas têm impactos negativos na saúde tendem também em concordar que as turbinas não são eficientes do ponto de vista económico.
Os investigadores argumentam, com base nos resultados obtidos, que os que mostram maiores níveis de concordância com as afirmações falsas ou enganadoras são também as que menos apoiam medidas políticas para expandir a energia eólica e as que mostram maior propensão para protestar contra a construção de turbinas eólicas.
Os autores sugerem que aceitar ou não informação falsa como sendo verdadeira não depende do grau de escolaridade da pessoa, mas sim da forma como ela vê o mundo. Os “teóricos da conspiração”, aqueles que veem maquinações secretas em todo o lado, tenderão a olhar para a desinformação como facto incontestável. Contudo, ter maior conhecimento científico não é garantia de níveis menores de aceitação de informação incorreta.
“É provável que seja difícil contrariar a desinformação através da simples apresentação de factos, se esses não se enquadrem na visão do mundo que as pessoas têm”, afirma Kevin Winter, da Universidade de Hohenheim e o primeiro autor do trabalho.
Se a opinião pública pode realmente ser um obstáculo à expansão, neste caso, da energia eólica, é algo que ainda divide os académicos, mas estes investigadores salientam que “em nações democráticas (…) onde o capital político e financeiro depende do apoio popular a iniciativas, parece razoável argumentar que a desinformação generalizada sobre a energia eólica ameaça futuros projetos”.
Por isso, defendem a importância de campanhas de sensibilização e informação sobre energia eólica que enfatizem os benefícios pessoais que os indivíduos possam colher, e não se cinjam à mera transmissão de factos, “para convencer as pessoas com uma atitude negativa”.