Dezenas de espécies de tubarões, raias e quimeras podem vir a ser ameaçadas por mineração em águas internacionais



Os habitats de 30 espécies de tubarões, raias e quimeras sobrepõem-se a áreas onde poderá vir a ocorrer exploração de minerais em mar profundo.

Num artigo publicado este mês na revista ‘Current Biology’, investigadores dos Estados Unidos da América, Canadá, Austrália e Nova Zelândia alertam que dois terços dessas espécies, da classe dos peixes cartilagíneos (Chondrichthyes), estão já classificadas como ameaçadas de extinção, sobretudo por causa dos impactos humanos. Dessa forma, a mineração em mar profundo, que poderá perturbar o leito marinho e libertar grande nuvens de sedimentos, pode agravar ainda mais o risco de extinção a que esses animais estão expostos.

“A mineração em mar profundo é uma nova potencial ameaça a este grupo de animais, que tanto são vitais para o ecossistema oceânico como para a cultura e identidade humanas”, comenta, em comunicado, Aaron Judah, da Universidade do Havia em Mānoa e primeiro autor do estudo.

“Ao se identificar e chamar a atenção para esta ameaça, e recomendando potenciais vias de conservação, espero que estejamos mais bem posicionados para, no futuro, apoiar populações saudáveis de tubarões, raias e quimeras”, acrescenta.

Embora a mineração em águas internacionais, que estão além da jurisdição nacional de qualquer país, ainda não tenha oficialmente começado (há algumas ações de prospeção, contudo) porque a autoridade global responsável pela sua regulação, a ISA, ainda não se pronunciou definitivamente sobre se é seguro ou não avançar, os autores desta investigação dizem que, dada a “crescente pressão geopolítica” para que a atividade arranque, “é oportuno avaliar o impacto potencial” da mineração em mar profundo nos tubarões, raias e quimeras.

Os cientistas sugerem que existem dois tipos de impactos. Um está relacionado com as perturbações diretas causadas no leito marinho e pelas plumas de sedimentos geradas pelas máquinas de extração de minérios. Várias espécies depositam os seus ovos no leito marinho, pelo que a mera atividade dos coletores será, por si só, uma ameaça direta ao futuro dessas espécies.

Outro tipo de impactos está relacionado com as descargas de sedimentos na água, depois de os minerais terem sido retirados nos navios. A equipa prevê que essas descargas poderão causar problemas respiratórios nos animais e reduzir a visibilidade, afetando negativamente a capacidade de caça desses predadores. Além disso, os metais tóxicos contidos nos sedimentos podem ser ingeridos pelos peixes, especialmente pelos filtradores, dos maiores aos mais pequenos, das presas aos predadores, com efeitos possivelmente nefastos por toda a cadeia trófica.

É possível que as partículas e sedimentos libertados pela atividade de mineração possam manter-se em suspensão durante dias, meses ou anos, e viajar distâncias de vários quilómetros, pelo que os seus impactos podem estender-se no tempo e no espaço.

“Os tubarões e os seus parentes são o segundo grupo de vertebrados mais ameaçado do planeta, sobretudo por causa da sobre-pesca”, diz Jeffrey Drazen, um dos principais coautores do artigo.

“Por causa da sua vulnerabilidade, devem ser considerados nas discussões que estão a decorrer sobre os riscos ambientais da mineração em mar profundo, e aqueles responsáveis pela monitorização da sua saúde devem estar cientes de que a mineração pode representar um risco adicional”, salienta.

A equipa aponta que a implementação de programas de monitorização de tubarões, raias e quimeras, a sua inclusão em avaliações de impacte ambiental de operação de mineração e a criação de áreas marinhas protegidas são abordagens fundamentais para mitigar os piores efeitos dessa atividade extrativa nas fauna oceânica.






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