Dia Mundial dos Animais: Projeto internacional pretende diminuir o sofrimento nas pescas



No Dia Mundial dos Animais, o consórcio internacional Carefish/catch anuncia um projeto de investigação que, pela primeira vez, irá investigar compreensivamente o bem-estar animal nas pescas. O projeto pretende promover melhores práticas de pesca, avaliar o impacto de diferentes métodos de pesca nos peixes e propor medidas para reduzir o stress e sofrimento dos peixes.

O bem-estar animal “tem sido uma preocupação crescente para uma elevada proporção da população que consome proteína animal e quer garantir que os animais criados para consumo humano vivem nas melhores condições possíveis e são abatidos humanamente, assim reduzindo o stress e o sofrimento”, sublinha o consórcio em comunicado.

Este assunto, acrescenta, “tornou-se muito presente na indústria pecuária e numerosos estudos foram realizados, o que levou a um aumento na quantidade de padrões e boas práticas implementadas”.

Segundo a mesma fonte, a aquacultura “tem também sido alvo de um escrutínio significativo em termos de bem-estar animal em anos recentes, com a consciencialização crescente sobre o facto de os peixes serem animais sencientes e passarem a sua vida em tanques de aquacultura. No que diz respeito às pescas, a conversa é bem diferente”. Este tópico, alerta o consórcio, “encontra-se geralmente ausente do debate público e das preocupações dos consumidores no momento da compra de pescado”. Contudo, um número crescente de investigadores, decisores e grupos de defesa animal “têm argumentado pela necessidade de o bem-estar animal ser devidamente investigado e integrado na conversa sobre padrões de pescado sustentável”.

Peixes conseguem sentir dor e experienciar stress e emoções como o medo

O consórcio explica que, até há cerca de 20 anos, a narrativa dominante era que os peixes “não são capazes de sentir dor, e assim o seu bem-estar foi largamente ignorado. A ciência “demonstrou, contudo, que os peixes conseguem não só sentir dor, mas também experienciar stress e emoções como o medo, pânico e mesmo alegria. A aquacultura tem melhorado consistentemente as suas práticas neste aspeto, reduzindo fatores de stress e sofrimento, que acaba por resultar em benefícios na qualidade dos produtos”.

Como podemos então implementar tais medidas na indústria pesqueira? questiona a mesma fonte.

Assim, pela primeira vez, um projeto de investigação irá abordar este assunto de forma integrada: o projeto Carefish/catch – Promoting better fishing standards. O projeto será desenvolvido por um consórcio internacional liderado pela fair-fish International (Suíça), em colaboração com o Fish Ethology and Welfare Group (Portugal), o Centro de Ciências do Mar (Portugal), a Friend of the Sea (Itália) e o DeMoS Institute (França). Este consórcio combina o conhecimento e experiência dos seus membros de projetos de investigação sobre o bem-estar de peixes.

A equipa do projeto irá avaliar os diferentes impactos que as pescas têm no bem-estar animal dos peixes e definir os aspetos com maior potencial para reduzir o sofrimento animal em diversas pescarias e para diferentes espécies. Com esta informação, o Crefish/catch irá criar linhas orientadoras para o processo da certificação da Friend of the Sea (FOS). A FOS certifica práticas de pesca sustentável no mundo inteiro, o que a tornará do primeiro esquema de certificação a incluir critérios para reduzir o sofrimento animal nas pescas. Adicionalmente, numa abordagem integrativa pioneira, o projeto também irá incorporar pescadores e outros agentes de forma a avaliar as dimensões sociais e económicas do bem-estar animal nas pescas.

Projeto dura até 2025

O comunicado revela ainda que, no final de junho passado, o projeto Carefish/catch foi apresentado a uma audiência de especialistas internacionais e que os resultados iniciais apresentados mostraram que os peixes “sofrem infrações de bem-estar severas, e que estas variam de espécie para espécie, com diferentes artes de pesca a induzir diferentes tipos, duração e intensidades de sofrimento”.

Além da investigação e da criação de uma base de dados de acesso livre, o projeto irá organizar reuniões com agentes relevantes e trabalhar no sentido de tornar o bem-estar animal nas pescas num assunto relevante, que servirá também para ajudar consumidores e retalhistas no momento da compra. O projeto terá duração até 2025, conclui a mesma fonte.
 





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