Disparidade da riqueza de Silicon Valley pode transformar São Francisco numa cidade fantasma



“No final dos anos 90, ganhava €11/hora, vivia num apartamento com dois quartos e a vida era boa. Podia viajar de vez em quando, comprar jantar e bebidas e ir às compras. Não era rica, mas podia viver com o meu salário porque a minha renda era de €445 por mês”.

As palavras pertencem a Mikki Kendall, redactora do Quartz e residente em São Francisco. Segundo Kendall, os dias bons já passaram. Hoje, a renda média de um apartamento de um quarto em São Francisco é de €3.185, segundo o site Zumper, e a de dois quartos é de €4.320. No entanto, o salário mínimo continua nos €11/hora.

O aumento brutal do nível de vida da Bay Area, a Área Metropolitana de São Francisco, está relacionado com Silicon Valley, o principal centro de inovação e tecnologia do mundo e onde estão instaladas empresas como a Apple, Google, Facebook, Netflix, Intel, eBay, HP ou Pixar.

O problema, explica Kendall, não são os técnicos especializados e bem pagos, mas sim os outros trabalhadores. Onde irão morar os representantes do serviço ao cliente, os trabalhadores que tratam da manutenção dos edifícios, motoristas e outros profissionais que ajudam a indústria a crescer?

Segundo Kendall, mesmo que Sillicon Valley não queira saber do nível de vida de São Francisco – e não quer – , ela será confrontada com o problema. A não ser que queira passar a ser uma cidade fantasma.

“A estagnação dos salários é um problema em todo o lado. E as uniões, que normalmente lutam contra o aumento do custo de vida, estão continuamente sob ataque do sector da tecnologia”, segundo Kendall.

Caso esta tendência continue, de pouco valem salários elevados: os trabalhadores bem pagos do sector da tecnologia vão viver numa cidade sem serviços, uma vez que os custos de transporte ou rendas vão afastar as pessoas que providenciam esses serviços. “Uma cidade habitada exclusivamente por milionários não é funcional”, explica Kendall.

E se São Francisco quer evitar este destino tem de admitir que o problema da disparidade da riqueza vai acabar, eventualmente, por destruir todas as empresas de tecnologia – grandes e pequenas – e o próprio Vale do Silício.

Foto: Anita Ritenour / Creative Commons





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