Douro Internacional com primeira Estação de Aclimatação de abutre-preto em Portugal

O Parque Natural do Douro Internacional dispõe de uma Estação de Aclimatação, a primeira a nível nacional, destinada à recuperação e habituação ao território do ameaçado abutre-preto, disse hoje à Lusa fonte da Palombar.
“A Estação da Aclimatação é uma estrutura de grandes dimensões, destinada ao alojamento de abutres-pretos que aqui chegam provenientes de centros de recuperação de aves de todo o país. Os abutres aqui chegados entram em habituação com o ambiente natural, durante seis ou setes meses, antes de serem devolvidos ao seu meio natural”, explicou à Lusa o biólogo Iván Gutiérrez.
Este primeiro equipamento foi instalado na quarta-feira, no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), junto à aldeia de Fornos, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, no sul do distrito de Bragança.
O biólogo explicou que, após a estadia neste centro, estas aves necrófagas vão reconhecer de imediato o território, porque já passaram mais de meio ano em contacto com a sua nova casa.
“Este é um método que tem por objetivo ajudar a aumentar o crescimento do abutre-preto neste território. Esta é a primeira vez que se utiliza este método em Portugal nas aves de rapina”, vincou.
Esta estação faz parte do projeto “LIFE Aegypius Return”, que tem por objetivo a consolidação e expansão da população de abutre-preto em Portugal, que no PNDI tem a colónia mais frágil e isolada para a nidificação.
“ O PNDI é a área em Portugal que mais necessitava deste tipo de intervenção, dadas as suas características de isolamento e fragilidade, mas é um verdadeiro santuário para estas espécies de aves rupícolas ou necrófagas”, disse.
Entre as grandes ameaças à viabilidade da espécie em Portugal, incluem-se a destruição do habitat pelo aumento dos incêndios florestais, o uso ilegal de veneno, a disponibilidade limitada de alimento devido a restrições sanitárias e às reduzidas populações de herbívoros silvestres.
A estas, juntam-se o consumo de recursos alimentares contaminados por fármacos veterinários ou chumbo (das munições de caça), a perturbação humana durante a época de reprodução e a morte por colisão/eletrocussão em linhas elétricas.
Com duração prevista até 2027 e financiado em mais de 2,7 milhões de euros pela União Europeia, este projeto é liderado pela Vulture Conservation Foundation, uma organização internacional dedicada à conservação das espécies de abutres europeus, e reúne como participantes a Liga para a Proteção da Natureza (LPN), a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, a Herdade da Contenda, E.M., a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), a Associação Transumância e Natureza (ATN), a Guarda Nacional Republicana (GNR), a Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade (ANPC) e a Fundación Naturaleza y Hombre.
Segundo dados divulgados pela Palombar, o abutre-preto (Aegypius monachus) é uma espécie protegida ao abrigo de legislação nacional e internacional.
“Em Portugal, o abate ou perturbação desta ave é um crime punível com pena de prisão até cinco anos. No entanto, infelizmente, a perseguição a esta espécie mantém-se um grave fator de ameaça e mortalidade”, indicou a associação.
Nos últimos meses, pelo menos três abutres-pretos nascidos no país foram vítimas de tiro. Entre as vítimas estão duas aves marcadas com emissores GPS/GSM no âmbito do projeto “LIFE Aegypius Return”.
Atualmente, a colónia transfronteiriça do PNDI tem oito casais nidificantes, o que é considerado já “um número bastante positivo, tendo em conta o contexto e evolução nos últimos anos”.