Durante as suas migrações, aves fazem pausas para descansar, comer e até recuperar o sistema imunitário
Esforço físico intenso e pouco descanso pode ser uma má combinação. Basta ver o caso da espécie Dasyurus hallucatus, um pequeno marsupial da Austrália cujos machos, no frenesim do acasalamento, colocam a reprodução acima do descanso, com prejuízos para a sua própria saúde e, em alguns casos, resultando na morte do indivíduo e podendo por em causa a sobrevivência das suas populações.
No entanto, tal não sucede com as aves migratórias. Estes animais viajam muitos quilómetros, atravessando diversos países, mares e oceanos para alcançarem locais de reprodução e para escaparem às frias temperaturas do inverno.
Um grupo de investigadores europeus descobriu que, durante a paragem que fazem entre o local de origem e o destino, as aves migratórias não apenas se alimentam e descansam, como também reforçam o seu sistema imunitário. E isso acontece muito rapidamente, sendo que apenas é preciso um dia de descanso para revitalizar as defesas naturais do organismo.
“O nosso estudo mostra que as paragens das aves migratórias servem outros propósitos, além do ‘reabastecimento’”, afirma Arne Hegemann, da Universidade de Lund, na Suécia, e um dos coautores do artigo publicado na revista ‘Biology Letters’, acrescentando que as esses animais “também precisam que outros sistemas fisiológicos recuperem”.
O biólogo explica que essas paragens podem ser entendidas como aquelas que nós, humanos, fazemos nas estações de serviço à beira das autoestradas, não só para comer qualquer coisa, mas também para recuperar do desgaste da viagem.
Focando-se em aves migratórias como o rabirruivo, a ferreirinha e o tentilhão, os cientistas avaliaram as mudanças nos seus sistemas imunitários durantes as pausas que fazem ao longo da migração.
“Se virmos um pássaro no nosso jardim ou num parque durante o outono e sabemos que está a caminho do sul da Europa ou de África, é fascinante pensar na razão pela qual está a fazer uma pausa. Se não se alimentarem nem descansarem, os seus sistemas imunitários não conseguem recuperar”, argumenta Hegemann, sublinhando que isso poderá pôr em risco a saúde dessas aves devido ao grande esforço feito nas suas deslocações migratórias.