“É assim que as nossas ilhas deixarão de existir”: Estados insulares do Pacífico querem que mundo declare “guerra total” ao “monstro das alterações climáticas”
Os pequenos Estados insulares do oceano Pacífico, bem como de outras regiões do planeta, estão na linha da frente dos impactos das alterações climáticas, embora muito pouco contribuam para a degradação do ambiente, para o degelo e para o aquecimento global. Exigem que a comunidade internacional, particularmente os países mais ricos e que são também os maiores responsáveis pela quase totalidade das emissões de gases com efeito de estufa, apoiem as nações mais vulneráveis e pobres a criarem defesas contra o aumento do nível do mar, que está a engolir os seus territórios.
O Presidente das Ilhas Marshall, David Kabua, apela a que o mundo “declare guerra total” ao “maior desafio deste século”: o “monstro das alterações climáticas”.
Do púlpito da Assembleia Geral das Nações Unidas, o líder do país localizado no oceano Pacífico, que é parte do grupo dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), lamenta que “o mundo falhou em quebrar a nossa dependência dos combustíveis fósseis”.
“Não estamos a investir o suficiente em adaptação vital, particularmente dos pequenos Estados insulares”, denuncia Kabua, explicando que hoje as Ilhas Marshall, tal como outras nações com características geográficas semelhantes, já veem hoje os impactos “desta crise global”. E lança a questão: “quão pior será se ultrapassarmos os 1,5 graus Celsius [de aquecimento]?”.
O presidente marshallino argumenta que o Pacto Climático de Glasgow, alcançado na cimeira internacional COP26 que decorreu em novembro de 2021, “deve ser a fundação de um futuro mais seguro”. Destaca o fortalecimento das energias renováveis, a reforma dos setores da aviação e do transporte marítimo e a aplicação de impostos sobre os maiores poluidores como medidas fundamentais para que os países possam alcançar as metas climáticas com a quais se comprometeram.
O financiamento da adaptação das comunidades mais vulneráveis às alterações climáticas é fundamental, afirma, advogando que um “começo vital” seria duplicar esses esforços, e indica que deveria ser estabelecido um mecanismo de financiamento “para ajudar aqueles que estão na linha da frente” dos impactos gerados pelas alterações climáticas.
Mas a voz das Ilhas Marshall não é a única que se ouve de entre os pequenos países insulares, que são os que menos contribuem para o aquecimento global e, consequentemente, para a crise climática que galopa cada vez mais velozmente, mas são os que mais sofrem, perdendo território para um mar que sobe incessantemente devido ao degelo.
Perante a audiência dos líderes mundiais e seus representantes, na Assembleia Geral das NU, o Primeiro-ministro do Tuvalu, um Estado do Pacífico composto por uma constelação dispersa de nove ilhas e atóis e com uma população de cerca de 11 mil habitantes, afirma que o país está a correr contra o relógio para impedir que os seus territórios desaparecem sob as ondas.
Kausea Natano alertou que a subida do nível do mar está a impactar negativamente os solos de que as comunidades de Tuvalu precisam para sobreviverem, para plantar comida e matérias-primas, para construírem as suas casas e estradas e para instalarem redes de abastecimento elétrico. Contudo, à medida que o quadro se torna mais negro, cada vez mais famílias optam por deixar o país.
“É assim que um atol no Pacífico morre. É assim que as nossas ilhas deixarão de existir”, alerta Natano, salientando que os pequenos Estados insulares do Pacífico “não fizeram nada para causar as alterações climáticas”, contribuindo menos de 0,03% para o total global de emissões de dióxido de carbono.
“Esta será a primeira vez na História que a ação coletiva de muitos nações fará com que vários países soberanos se tornem inabitáveis”, acusa o Primeiro-ministro de Tuvalu.
Foi a constatação dessa ameaça existencial crescente que levou as Ilhas Marshall e Tuvalu a criarem a ‘Rising Nations Iniciative’ (ou “Iniciativa das Nações Emergentes”, em tradução livre), cujos objetivos são levar a comunidade internacional a comprometer-se com a preservação da soberania e dos direitos do países insular do Pacífico, a criar um programa de financiamento para a adaptação e resiliência climáticas de comunidades locais, a conceber um repositório da herança cultural de cada um desses países, e requerer que a UNESCO declare essas ilhas como Património Mundial da Humanidade.
Países como os Estados Unidos, a Alemanha, a Coreia do Sul e do Canadá já manifestaram o seu apoio à iniciativa, reconhecendo que países insulares como as Ilhas Marshall e Tuvalu carregam os maiores fardos no que toca aos impactos das alterações climáticas.