“É imperativo trabalhar com os clientes no desenvolvimento de estratégias e planos de ação ESG personalizados”



As decisões empresariais passam cada vez mais pela sustentabilidade, seja esta social, corporativa ou de governança. A Emília Alves explica-nos em entrevista um pouco como esta nova realidade está a transformar as decisões dos empresários.

Emília Alves é mais do que uma Business Coach. Através de uma abordagem disruptiva e intuitiva ajuda os empresários a desbloquear situações indesejadas e apoia nas tomadas de decisão com vista ao desenvolvimento da empresa.

Os critérios ESG estão, cada vez mais, na linha da frente dos planos da empresa e, em entrevista à Green Savers, a Emília Alves falou-nos sobre o impacto que a sustentabilidade já tem no presente e futuro das empresas.

A Emília ajuda empreendedores e executivos a acelerarem o seu crescimento. De que forma inclui os pilares ESG neste caminho?

Eu creio que estes pilares ESG são incontornáveis, imperativos e urgentes e eu começo sempre por alertar os meus clientes para as boas práticas, guiando-os através de um processo estruturado e adaptado às suas necessidades e circunstâncias específicas. A partir de uma avaliação das práticas actuais, sensibilizo-os para a urgência de as encararmos, ajudando a compreender a importância da inclusão das boas práticas ESG para o seu negócio, incluindo os potenciais benefícios em termos de gestão de risco, reputação da marca, envolvimento das partes interessadas e sustentabilidade a longo prazo.

Hoje, mais do que nunca, é imperativo trabalhar com os clientes no desenvolvimento de estratégias e planos de ação ESG personalizados, que se alinhem com a sua estratégia e valores empresariais globais, criando planos de ação concretos e alinhados com os principais impactos da atividade, com vista à criação de valor para o negócio e para a sociedade.

Há diversos estudos que indicam que, atualmente, o salário já não é a maior motivação dos colaboradores. Quais são as motivações que destacaria para reter o talento? Embora o salário seja, sem dúvida, um fator importante na retenção de talentos, nem sempre é o fator mais crítico ou decisivo. Os fatores que destaco como os mais significativos e que podem também influenciar significativamente a decisão de um trabalhador de permanecer numa empresa, são os seguintes:

• Equilíbrio e qualidade de vida, o que pode incluir acordos de trabalho flexíveis, opções de trabalho remoto e tempo livre adequado.

• Oportunidades de desenvolvimento da carreira; oportunidades de crescimento profissional, desenvolvimento de competências e progressão na carreira.

• Uma cultura empresarial positiva que promova a colaboração, o respeito, a inclusão, a diversidade, a equidade e um sentimento de pertença.

• Reconhecimento e apreciação das suas contribuições e realizações. • Satisfação e empenho no trabalho, com a perceção de que têm um propósito e que acrescentam valor.

Sente que as empresas que aborda têm real preocupação com a sustentabilidade? Ou querem apenas cumprir o indispensável?

Acredito que a maioria das empresas têm uma preocupação real com a sustentabilidade, ainda que dependa muito de vários fatores, nomeadamente a faixa etária dos seus colaboradores e sectores específicos de atividade. Todavia, os investimentos necessários para a introdução destas boas práticas de ESG são muitas vezes incompatíveis com as decisões da Gestão de Topo sobre a sua urgência, relegando para “revisão no próximo ano” e fazendo somente o que é estritamente indispensável ou imposto por requisitos legais, revelando uma visão de curto prazo, olhando numa perspetiva de custo atual e não de investimento a longo prazo, para garantir a sustentabilidade (económica) e resiliência do negócio.

Os empresários nem sempre têm uma noção “real” do que significa, ou deve significar, sustentabilidade para a sua organização. Focam-se muitas vezes em temas como reciclagem, e outros, sem nunca terem feito um verdadeiro trabalho de diagnóstico que lhes permita perceber quais os aspetos materiais que devem ser trabalhados de forma prioritária.

Como o entendimento de sustentabilidade da gestão nem sempre é o mais correto, há também uma perceção de que os seus negócios têm pouco impacto, e de que há pouco a fazer em termos de sustentabilidade (principalmente em empresas de serviços, cujas operações se baseiam em trabalho de escritório), quando muitas vezes não é o caso. Assim, é muitas vezes um tema trabalhado com pouca profundidade, e numa ótica de comunicação, ficando por endereçar aspetos fundamentais. Mesmo dentro do mesmo setor, há níveis de maturidade muito distintos em termos de sustentabilidade.

Há de facto um conjunto de empresas cujos líderes encaram a sustentabilidade numa ótica de compliance, enquanto outros têm já uma visão mais clara dos riscos e oportunidades com impacto no seu negócio.

Há ainda um caminho longo a percorrer (em relação à sustentabilidade e responsabilidade social) no mercado empresarial?

Sem dúvida! Mas mesmo um longo caminho começa pelo primeiro passo! As empresas podem e devem adotar os princípios ambientais, sociais e de governação (ESG) integrando-os nas suas estratégias, operações e processos de tomada de decisão fundamentais. Aliás, eu começaria por destacar aquela que deve ser a base para o fazer: o compromisso da Gestão de Topo. A adesão da liderança é crucial para a integração efetiva da sustentabilidade no negócio. A partir daqui podemos então falar em desenvolvimentos uma abordagem espelhe o compromisso da empresa com a sustentabilidade, responsabilidade social e governação ética.

As estratégias devem incluir compromissos claros, e os planos de ação definir objetivos concretos, metas e métricas para medir o desempenho e o progresso. Como não poderia deixar de ser, pessoas são pessoas e são as pessoas que temos de envolver; ou seja, todos os nossos stakeholders. Tudo isto implica alinhar as considerações ESG com a estratégia de negócios e processos de tomada de decisão. Incorporar fatores ESG na gestão de risco, análise de investimento, desenvolvimento de produtos, gestão da cadeia de fornecimento e governação empresarial.

Só a partir daqui, em minha opinião, faz sentido implementar iniciativas de sustentabilidade para minimizar os impactos ambientais, tais como a redução das emissões de gases com efeito de estufa, a conservação dos recursos naturais, a adoção de fontes de energia renováveis e a promoção de práticas de economia circular. E por fim, mas não menos importantes, desenvolver e apoiar programas de responsabilidade social que contribuam para o bem-estar das Pessoas: colaboradores, comunidades e da sociedade em geral.

Isto pode incluir iniciativas relacionadas com a inclusão, diversidade e equidade (e esta é para a mim a ordem de o fazer em vez de DEI), saúde e segurança dos colaboradores, filantropia e desenvolvimento comunitário. Em suma, as empresas têm de fomentar uma cultura de governação ética, promovendo a integridade, a responsabilidade, a transparência e a justiça em todas as transações comerciais e devem estabelecer estruturas sólidas de governação empresarial, incluindo conselhos de administração independentes, códigos de conduta éticos e políticas de denúncia de irregularidades.

Consequentemente, temos de implementar mecanismos de monitorização e avaliação do desempenho ESG utilizando métricas e indicadores relevantes, informando regularmente as partes interessadas sobre as iniciativas, progressos e resultados ESG através de relatórios de sustentabilidade, registos anuais e outros canais de comunicação. Acredito que tudo isto implica ter um mindset de melhoria contínua; pois é preciso rever e melhorar continuamente as práticas com base em feedback, dados de desempenho, tendências do sector e melhores práticas emergente, bem como adaptar estratégias e iniciativas para enfrentar os desafios e oportunidades em evolução.

Ao adotar os princípios ESG, as empresas podem não só melhorar a sua sustentabilidade e resiliência a longo prazo, mas também criar valor para as partes interessadas e contribuir para um futuro mais sustentável e equitativo.





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