E-Redes diz não ter sido contactada sobre alegadas limpezas abusivas em Montesinho

A E-Redes garantiu hoje não ter sido contactada por causa de alegadas limpezas abusivas realizadas na freguesia de Espinhosela, em Bragança, que integra o Parque Natural de Montesinho, e disse que apenas cumpriu a lei.
“A E-Redes não foi, até ao momento, contactada sobre as situações reportadas”, respondeu fonte oficial da empresa à Lusa, por escrito, ao pedido de esclarecimentos colocado.
Na segunda-feira, a Comunidade Local dos Baldios de Cova de Lua, na freguesia de Espinhosela, denunciou alegados trabalhos de limpeza executados pela E-Redes “de forma abusiva”, que incluíram o abate e poda de azinheiras, espécie protegida, carvalhos, castanheiros e freixos.
Segundo a gestão dos baldios de Cova de Lua, os proprietários foram surpreendidos este mês com a limpeza de terrenos por parte da E-Redes – Distribuição de Eletricidade, S.A. sem que tivessem sido informados e sem pareceres prévios, nomeadamente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
A E-Redes, entidade gestora das redes de distribuição de energia elétrica de média e alta tensão e responsável pela execução da gestão de combustível junto às linhas, disse ainda que “as intervenções recentes efetuadas no Município de Bragança, freguesia de Espinhosela, têm sido executadas no âmbito do cumprimento do Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PMDFCI) em vigor”.
Além do mais, garantiu a empresa, as intervenções regem-se “pelos critérios de gestão de combustível determinados pelo Decreto-lei n.º 82/21, que estabelece o Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais”.
“A extensão e alcance dos trabalhos de corte que são realizados nesse âmbito decorrem da imposição da obrigação de cumprimento desses critérios pela E-Redes, não estando na disponibilidade desta empresa a definição das condições a observar”, afirmou ainda a empresa.
O presidente do conselho de administração da Comunidade dos Baldios de Cova de Lua, David Fernandes, contou à Lusa que os proprietários de terrenos avisaram de que estaria a haver limpezas a cargo da E-Redes, “onde estaria a ser cortado material lenhoso, entre eles o carrasco [azinheira] o que não é autorizado”.
“Estes trabalhos de limpeza estavam a ser feitos de forma abusiva, sem respeitar as diretivas que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) sempre colocou aos Baldios de Cova de Lua nas limpezas de materiais lenhosos por nós efetuados”, lê-se nessa tomada de posição dos Baldios.
No edital emitido pela E-Redes, datado de janeiro, com as freguesias a ser alvo de intervenção, e a que a Lusa teve acesso, Espinhosela não constava.
Otávio Reis, presidente da junta desta freguesia que tem como anexas das aldeias além de Cova de Lua, Terroso e Vilarinho, afirmou na segunda-feira que também fez diligências junto do ICNF e do município de Bragança, que integra a cogestão do parque, que lhe transmitiram “não estar nenhuma previsão de limpeza na área este ano”.
O presidente da junta denunciou que foi feito “desbaste completo em zona de carvalhal, sem ficar árvore nenhuma”. Além de carvalho e de azinheira, foram cortados ou podados castanheiros e freixos, segundo Otávio Reis.
Entre 15 a 20 donos destas terrenos alegadamente afetados já reportaram que se sentiram lesados com estas limpezas.
O Parque Natural de Montesinho foi reconhecido em agosto de 1979. Tem cerca de 75 mil hectares nos concelhos de Bragança e Vinhais, a Terra Fria Transmontana, e inclui 92 aldeias.