E se Portugal tivesse um partido político verde independente?
É relevante a existência de um movimento político verde independente em Portugal? Confira a resposta a esta pergunta na quarta e última parte da entrevista exclusiva de Susana Fonseca ao Green Savers.
Consulte as restantes três partes da entrevista à presidente da Quercus: 1. 2. 3.
O antigo presidente da Greenpeace Espanha, Lopez Uralde, vai criar um partido político verde em Espanha, porque diz que o movimento verde não está organizado e unido e acaba por não ser politicamente relevante. Portugal tem um movimento político “verde” relevante?
Não quero ser ofensiva, mas acho que não temos propriamente um movimento político com uma grande capacidade de intervenção. Claro que o partido ecologista Os Verdes é dos poucos partidos que procura dar algum eco às questões que enviamos, regularmente, à assembleia [da República], sendo que, às vezes, são eles mesmos que querem trabalhar connosco em várias áreas. É um trabalho continuado.
Estamos a falar de um partido que surge associado a um outro partido que, senão fosse assim, não existiria. Esta é uma situação inversa, por exemplo, à alemã, onde há um partido ecológico que tem o seu espaço e não precisa de outro.
[A existência do partido Os Verdes] pode ser interessante porque há questões que surgem na Assembleia da República que, de outra forma, não surgiriam, mas também é um facto que, em termos finais, o impacto não tem sido propriamente muito significativo.
Mas compreendo a intervenção do Lopez Uralde. Às vezes os países mais pequenos facilitam a intervenção das ONGs, apesar de parecer que não. E o facto de Espanha ter independência de regiões e de ser um país bastante maior que Portugal torna mais difícil chegar aos meios de comunicação nacionais.
Aliás, os nossos colegas, por vezes, ficam espantados com a projecção que a Quercus consegue ter. Quando falamos, por exemplo, do “Minuto Verde”, eles não percebem [como o conseguimos].
Um exemplo: o Francisco Ferreira [vice-presidente da Quercus] já teve iniciativas em Bruxelas – em que estavam a Greenpeace, WWF… as grandes organizações – em que a Quercus tinha as três televisões portuguesas a cobrir o evento.
Se calhar Espanha tem esse problema de chegar às pessoas, por isso tem de ir pela via política. E se sentem que têm uma base de apoio em todo o país, pode ser que o partido tenha alguma expressão. Mas cá em Portugal não me parece que cheguemos a esse nível. Se o PEV fosse independente, não sei…
Sei que a Quercus é apartidária, mas Portugal não tem espaço para ter um partido verde sem estar associado a outro partido?
Nós, Quercus, nunca pensámos [nisso]. E nem queremos. Mas não sei se estaríamos a esse nível… nunca tinha pensado sequer sobre este assunto. Calculo que se o PEV não tivesse ligado ao PCP não teria muita expressão, e calculo também que, com o tempo, possa vir a existir mais espaço – que não havia há dez anos – para um projecto destes, que unisse as várias organizações [ecológicas].
Mas a Quercus…
Não consideramos prioritário. Poderia ser interessante, mas para as mudanças que são necessárias… ter um deputado na assembleia, mesmo que fosse independente, não sei se teria peso. Talvez seja uma possibilidade… é uma reflexão possível, saber se a Quercus vai ou não defender se se deve criar um partido verde. Mas este é dos temas que nunca devemos ter falado em reunião de direcção… a importância que poderia ter a existência de um partido ecológico.
Independente e com expressão.
Sim. Como há o PEV, nunca imaginámos que possa sequer existir outro. Mas se calhar até pode, com uma outra roupagem. Vou sondar os meus colegas no próximo congresso da Quercus, para ver o que eles dizem [risos].