Elefantes, girafas e outros mamíferos africanos têm muito mais medo dos humanos do que dos leões



Com rugidos assombrosos, corpos musculosos e técnicas de caça altamente organizadas, os leões são considerados os ‘reis da selva’, os grandes superpredadores das savanas africanas. Perante esses poderosos felídeos, os restantes animais correm em busca de refúgio.

No entanto, um outro superpredador pode causar ainda mais medo nos mamíferos africanos: o humano.

Uma investigação liderada por cientistas da Western University, do Canadá, revela que as vozes humanas são um som muito mais aterrador para elefantes, girafas, rinocerontes e outros mamíferos do que os rugidos leoninos.

Centrada no Parque Nacional de Kruger, na África do Sul, os investigadores colocaram aparelhos de emissão de som em algumas árvores em áreas frequentadas por esses animais, para perceberem as reações ao som de vozes humanas. Num artigo publicado na passada quinta-feira na revista ‘Current Biology’, verificaram que a probabilidade de os animais selvagens fugirem das vozes humanas era duas vezes superior ao que se observava no caso da reprodução de rugidos de leões.

De acordo com as experiências realizadas, os cientistas notaram que 94,7% das espécies presentes em charcos, onde os animais vão para matar a sede e onde se congregam diversas espécies (elefantes, girafas, hienas, leopardos, zebras, javalis e impalas), batiam em retirada ao som de vozes humanas com uma velocidade quase 40% superior à que que fariam perante rugidos de leões. Os elefantes e os rinocerontes foram os animais que mais rapidamente corriam ao ouvirem o Homo sapiens.

Nos vídeos captados pelos investigadores, é possível ver que os animais, incluindo predadores, ficam muito mais alarmados e tendem a fugir muito mais rapidamente quando ouvem vozes de humanos do que quando escutam os rugidos de leões.

 

“Estes resultados fornecem uma nova dimensão do nosso impacto ambiental em todo o mundo”, explica Liana Zanette, da Western University e primeira autora do artigo. Segundo a investigadora, o medo demonstrado pelos animais pode ter “consequências ecológicas dramáticas, pois outras novas investigações já estabeleceram que o medo, por si só, pode reduzir o número de animais selvagens”.

A equipa recorda que estudos anteriores comprovam que outras espécies, noutras partes do mundo, exibem reações semelhantes quando ouvem sons humanos, e isso é algo preocupante, uma vez que as nossas sociedades, fruto da sua expansão geográfica incessante, estão cada vez mais a coincidir com territórios já ocupados por outros animais. Assim, a nossa mera presença pode ser suficiente para agravar a perda de habitat em várias espécies selvagens, algumas deles já fortemente pressionadas por outros fatores de ameaça.

Zanette classifica os humanos como superpredadores, atribuindo-nos uma “letalidade única”, e diz que dados recolhidos na América do Norte, na Europa, na Ásia, na Austrália e agora em África “estão a mostrar que a vida selvagem em todo o mundo receia muito mais o ‘superpredador’ humano do que os predadores de topo não-humanos de cada sistema, como leões, leopardos, lobos, pumas, ursos e cães”.

E acrescenta: “Estes resultados apresentam um novo desafio significativo para a gestão das áreas protegidas e para a conservação da vida selvagem, uma vez que é agora claro que mesmo humanos benignos, como turistas da Natureza, podem causar estes impactos que antes não eram reconhecidos”.





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