Energia nuclear chega ao fim na Alemanha. Associação Zero diz que agora as renováveis são a “escolha óbvia”



A partir deste sábado, dia 15, a Alemanha deixará de produzir eletricidade a partir de energia nuclear, marcando um caminho que começou na década de 1980.

A crise energética europeia, amplificada pela guerra da Rússia na Ucrânia, levou prolongamento da operação das centrais nucleares que ainda estavam em funcionamento na nesse país, para manter a segurança do abastecimento. Recorda a associação ambientalista Zero, em comunicado, que embora a vida útil dos reatores restantes devesse ter terminado no final de 2022, o governo alemão decidiu desligá-los três meses e meio depois. Os reatores Isar 2 e Neckarwestheim 2 estão localizados na parte sul do país, e a central nuclear de Emsland fica no Norte.

Na Alemanha, sob pressão do movimento antinuclear, a então existente coligação do SPD (Partido Social-Democrata) com os Verdes decidiu, em 2002, dar o primeiro passo para eliminar gradualmente a energia nuclear. Nessa altura, não tinha ainda sido definida uma data, mas a catástrofe no reator em Fukushima em 2011 levou o então governo formado pela CDU/CSU com o Partido Democrático Liberal (FDP) a estabelecer um calendário.

“Os investimentos recaem agora nas fontes de energia renovável (eólica e solar) que são uma escolha óbvia para a Alemanha em vez da nuclear, dado que as novas instalações de renováveis se tornaram mais baratas do que todas as outras fontes de eletricidade”, diz a mesma organização.

De acordo com o Relatório do Estado da Indústria Nuclear Mundial 2021 e o Instituto de Ecologia Aplicada (Öko-Institut), os custos de energia para geração de energia nuclear são atualmente de 15,5 cêntimos de Euro por quilowatt-hora, em comparação com 4,9 cêntimos para energia solar e 4,1 cêntimos para energia eólica.

Os novos projetos de reatores estão a sair muito mais caros do que o previsto, aponta a Zero, apontando que os custos de um novo ‘Evolutionary Power Reactor (EPR)’ em Flamanville, na França, aumentaram de 3,4 mil milhões para mais de 19 mil milhões de euros, ao mesmo tempo que o projeto provavelmente levará pelo menos mais 11 anos do que o planeado.

Aumentos de preços e atrasos semelhantes ocorreram no Reino Unido, Finlândia e Estados Unidos. Como muitos novos projetos nucleares também levam muito mais tempo para serem construídos do que o planeado, o Öko-Institut conclui que também será mais rápido construir um sistema baseado em energias renováveis.

“O fim da energia nuclear na Alemanha é um passo importante para o futuro pela redução do risco associado ao seu funcionamento, apesar da herança que permanecerá com os resíduos radioativos produzidos. A energia nuclear vincula recursos financeiros que estarão agora mais disponíveis para a transição energética” salienta a associação ambientalista.

A Zero considera que o facto de Portugal nunca ter optado pela energia nuclear para produzir eletricidade foi, desde sempre, “uma vantagem em termos de redução de riscos e de custos, e uma oportunidade para desenvolver um sistema mais sustentável assente na produção renovável”.

Quanto às “situações de risco mais próximas associadas ao funcionamento de centrais nucleares”, explica que Portugal terá de aguardar, de acordo com o calendário do Governo espanhol, pelo encerramento, em 2027, do reator Almaraz I e em 2028 de Alamaraz II, junto à fronteira e ao rio Tejo.

“Os restantes reatores nucleares em Espanha têm os seguintes encerramentos programados: Ascó I (Tarragona) e Cofrentes, ambos em 2030, Ascó II em 2032 e por último Valdellós II e Trillo (Guadalajara), em 2035”, adianta a Zero.





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