Energia que flutua
A EDP inaugurou oficialmente a instalação de 840 painéis solares flutuantes na albufeira da barragem do Alto Rabagão, distrito de Vila Real, na semana passada. Num investimento de 450 mil euros, este é um projecto pioneiro na Europa que conjuga energia solar e hidroeléctrica numa mesma albufeira. Colocados numa espécie de jangada, os painéis solares aproveitam a infraestrutura já existente na barragem, como os transformadores, os quadros eléctricos e a ligação à rede eléctrica, para o escoamento da produção anual, que no primeiro ano se espera seja o suficiente para alimentar 100 casas.
No início do ano, Paulo Pinto, gestor do projecto, que é uma parceria entre a EDP Produção, a EDP Distribuição e a EDP Renováveis, dizia à Lusa que “a esta escala, o projecto ainda não é viável. A nossa expectativa é estudar o funcionamento, a exploração e os resultados de exploração desta solução e, com uma escala maior, chegar a valores concorrentes com as soluções tradicionais em terra”.
Entretanto, na apresentação que aconteceu há dias, Miguel Patena, responsável da área de inovação da EDP Produção, explicou aos jornalistas presentes que, nos primeiros seis meses de funcionamento dos painéis, a produção atingiu os 160 megawatts/hora, um valor 6% acima do previsto.
E se é verdade que as decisões sobre o avanço comercial vão ficar para o final do ano, as vantagens de construir uma central fotovoltaica em cima de uma barragem são conhecidas. Em primeiro lugar não são necessários terrenos, “o espelho de água já existe, os painéis flutuantes não competem com terrenos utilizados para outros fins, não é preciso desmatar”, explicou Paulo Pinto. Ou seja, há também há vantagens ambientais porque “a pegada é nula”. Além disso, o espelho de água onde está assente a plataforma permite baixar a temperatura dos painéis fotovoltaicos, aumentando o rendimento do equipamento nos meses mais quentes face a equipamentos instalados em terra.
Se os resultados no primeiro ano de operação confirmarem as expectativas, a EDP poderá replicar a combinação das duas formas de produção de energia em outras albufeiras, nomeadamente no Brasil onde a eléctrica tem centrais hídricas.
E mesmo sendo este um projecto-piloto, dias após a inauguração oficial, os painéis solares flutuantes já provocavam ressonância do outro lado do Atlântico, com o Huffington Post a dizer que “este projecto pioneiro que conjuga energia fotovoltaica e hídrica poderá ser um modelo para estados como Washington e Oregon, e países como o Brasil, que dependem fortemente da hidro-electricidade”.
Na mesma reportagem são referidos outros projectos a nível mundial – uma fazenda solar flutuante perto da cidade de Huainan, na China; os painéis flutuantes que foram instalados no ano passado no reservatório Queen Elizabeth II, em Walton-on-Thames, nos arredores de Londres; ou um pequeno projecto-piloto em curso numa barragem na Amazónia -, mas é destacado o facto do Alto Rabagão ser “o primeiro projecto em que os painéis flutuantes funcionam em conjunto com os rotores hidro-eléctricos da barragem”. Ou seja, “os painéis solares ajudam a responder à necessidade de electricidade que surge no final da tarde ou no início da noite, quando as pessoas estão voltando para casa do trabalho”.
Foto: D2M-Energytransit