Entrevista a Rui Abreu: Mercado de reciclagem de alumínio em fim de vida pode crescer “uns 200 milhões de euros” em Portugal



A Green Savers falou com Rui Abreu, Presidente da Associação Portuguesa de Alumínio (APAL), sobre o facto de o alumínio ser um recurso vital para uma economia circular. Para o responsável trata-se de um material “acima de tudo infinitamente reciclável”.

O plano Estratégico da Associação Europeia do Alumínio, European Aluminium´s 2050, prevê que o aumento da reciclagem de alumínio pode evitar até 39 milhões de toneladas de emissões de CO2 por ano até 2050, podendo gerar cerca de 6 mil milhões de euros por ano para a economia europeia.  Aqui em Portugal, revela Rui Abreu, “este mercado pode crescer pelo menos (e em números redondos) uns 200 milhões de euros, tendo em conta o aumento do mercado da recolha de sucata para podermos atingir um consumo de 50% de alumínio reciclado e o aumento do consumo de alumínio”.

– Que lugar ocupa Portugal no ranking mundial dos produtores de alumínio?

Portugal é um país pequeno e o peso no mercado mundial é muito pequeno. Portugal não produz Alumínio primário. O que nós temos dentro das nossas fronteiras são Unidades de Reciclagem (Fundições) que utilizam sucata para a produção de alumínio. Podemos dizer que nós somos recicladores. Temos um conjunto importante de empresas de extrusão que utilizam como matéria-prima o produto das Unidades de Reciclagem.

– Porque é que o alumínio é um recurso vital para uma economia circular, neutra para o ambiente e o material do futuro para os setores da construção, automóvel, embalagem?

O alumínio é um material incrivelmente versátil. Leve, resistente, durável, boa condutividade, capacidade para tomar várias formas e acima de tudo infinitamente reciclável. No caso da indústria automóvel o uso do Alumínio permite descer o peso do automóvel gerando poupança de energia. Com a electrificação dos veículos o alumínio viu o seu uso aumentar rapidamente. Na construção, e com a preocupação cada vez maior de reduzir os impactos ambientais, o alumínio é um material muito importante para baixar a pegada de CO2 dum edifício. No sector das embalagens o ciclo de vida de uma embalagem é muito mais curto do que no caso do automóvel ou de uma janela. Desde que se produz uma embalagem até ela voltar à sucata passa muito pouco tempo. O volume enorme de embalagens produzidas implica que o produto com que se faz a embalagem tem que ser facilmente reciclável e versátil para permitir receber qualquer tipo de produto. O alumínio sem dúvida é esse material. Em todos os sectores o uso do alumínio toma uma importância enorme quando o produto chega ao seu fim de vida, é que pode voltar a ser o mesmo produto aplicando o mínimo de energia.

– A redução do impacto ambiental do alumínio começa ao nível do material. O que têm as empresas de fazer para obter um alumínio primário com baixo teor de carbono?

O alumínio primário produzido na Europa já tem um baixo teor de carbono se compararmos com o resto do mundo. Na Europa o recurso à energia Hídrica (na Escandinávia) e a energia Geotérmica (na Islândia) colocada o teor de CO2 libertado por cada kg de alumínio produzido numa média de 6,7Kg. Se compararmos os 20Kg de CO2 libertados por cada Kg produzido de alumínio nas empresas que produzem alumínio usando o carvão como fonte de energia, a Europa já está na dianteira. A média mundial está nos 17Kg de CO2 por Kg de alumínio produzido. O valor que se destaca nesta indústria são os 0,5Kg de CO2 Libertado por cada Kg de Alumínio produzido nas Unidades de Reciclagem. No entanto este valor poderá ser ainda reduzido com a adoção do Hidrogénio (Hidrogénio Verde) como fonte de energia. Já se esta a preparar testes industriais usando o Hidrogénio como energia. Quando digo “preparar testes” quero dizer já este ano, não estamos a falar daqui a uns anos. Já está a acontecer! Sem dúvida muito importante para atingirmos o objetivo traçado pela União Europeia de sermos, a sociedade europeia, neutros em CO2 no ano 2050.

– O alumínio pode ser reutilizado vezes infinitas sem perda de qualidade? Como?

Não queria entrar aqui em pormenores muito técnicos, mas o que dá as características ao alumínio é a sua composição química. A reciclagem do alumínio passa por derreter a sucata de alumínio e produzir novamente a matéria-prima para voltar às linhas de produção. A sucata de alumínio ao ser derretida não perde a sua composição química pelo que a sua característica se mantém. O segredo aqui é conseguir segregar muito bem a sucata de maneira a usá-la de um modo otimizado (a sucata de uma determinada liga de alumínio servir para produzir essa mesma liga). Mas neste ponto as empresas que recolhem a sucata estão cada vez mais profissionais e a trabalharem para atingirem a otimização na segregação quase perfeita a curto/médio prazo.

– As taxas de reciclagem do alumínio estão entre as mais elevadas em comparação com outros materiais. Na Europa, as taxas de reciclagem são superiores a 90% nos setores automóvel e da construção e 75% para as latas de alumínio. E em Portugal?

Não há números exatos em Portugal para as taxas de reciclagem do sector automóvel e da construção. No entanto estamos a falar de valores muito elevados já que a sucata de proveniente destes setores tem um sistema de recolha muito eficaz. Esta sucata é muito valorizada pelo que um número importante de empresas gestoras de resíduos tem todo o fluxo de recolha e entrega nas fundições muito bem organizado.

As embalagens (latas de alumínio) estão muito dependentes do consumidor final e aqui estamos francamente atrás da média da Europa.

– O plano Estratégico da Associação Europeia do Alumínio, European Aluminium´s 2050, prevê que o aumento da reciclagem de alumínio pode evitar até 39 milhões de toneladas de emissões de CO2 por ano até 2050, podendo gerar cerca de 6 mil milhões de euros por ano para a economia europeia.  Em Portugal estamos a falar de uma redução de quantas toneladas de CO2 e de quantos milhões para a economia?

Não existem valores calculados para o sector em Portugal dado o mercado pequeno que somos a nível europeu. Não temos produção de alumínio primário, proveniente da extração da bauxita. Os maiores ganhos no futuro estarão na redução da produção do alumínio primário e apostar na produção do alumínio reciclado. Isto implica várias coisas: redução nas importações para a Europa, aumento da produção de alumínio reciclado na Europa, redução dos consumos de energia e como consequência redução de custos de energia para o sector. Todos estes pontos irão implicar o ganho de 6 mil milhões de euros para a economia europeia. E repetindo, esta mudança para uma maior produção de alumínio reciclado, implicará a redução das emissões de CO2.

– O relatório prevê, ainda, que a reciclagem de alumínio em fim de vida pode crescer para um mercado de 12 mil milhões de euros até 2050, permitindo que a indústria do alumínio apresente uma oportunidade para a economia circular. Como? E para Portugal, quais as estimativas?

Já aqui referi a importância do alumínio, que usando da sua capacidade de poder ser reciclado infinitamente, é um material importante na economia circular. Todos sabemos que a extração de materiais do planeta terra tem limite. Não podemos estar a produzir e quando um determinado produto chega ao fim da sua vida deitá-lo para um aterro sanitário. Não pode ser. Isto tem que acabar, isto está a acabar. A economia circular é quando nós aproveitamos tudo. É utilizar um produto em fim de vida e fazer outro igual ou semelhante. Reciclar. Já estamos a caminhar para esta economia circular. Aqui em Portugal este mercado pode crescer pelo menos (e em números redondos) uns 200 milhões euros, tendo em conta o aumento do mercado da recolha de sucata para podermos atingir um consumo de 50% de alumínio reciclado e o aumento do consumo de alumínio.

– Diz também que a utilização do alumínio continuará a crescer no setor automóvel e no setor da embalagem onde irá melhorar a taxa global de reciclagem de embalagens e esforçar-se por reciclar 100% das latas de bebidas até 2030. Acredita nestas previsões e quais as estimativas para Portugal?

Eu acredito fortemente que a taxa de reciclagem para as embalagens será praticamente de 100% por volta de 2030. Levamos algum atraso comparando com a média Europeia, mas não nos podemos esquecer que a procura de sucata irá aumentar. Este aumento deve-se à procura por parte da indústria de alumínio com   baixas emissões de CO2, e como já referi, a reciclagem do alumínio emite baixos níveis de CO2. Tenho a certeza que será o mercado a fomentar o rápido aumento das taxas de reciclagem. Isto já está a acontecer.

 

 





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