Entrevista: PIAAC do Alentejo Litoral contempla aumento de pequenas barragens e recurso à dessalinização de água do mar



É hoje apresentado o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Alentejo Litoral (PIAAC-AL) que apresenta um retrato da região e enumera ações concretas e planeadas – para o presente, mas também para médio e longo prazo –, por forma a fazer face aos desafios ambientais e salvaguardar as comunidades, os ecossistemas e as gerações futuras do litoral alentejano.

Em entrevista à Green Savers Vítor Proença, Presidente da CIMAL – Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral, fala sobre os principais riscos que esta região enfrenta e revela que medidas concretas contempla o plano para os mitigar.

– Uma investigação desenvolvida dentro da estratégia regional da adaptação às alterações climáticas no Alentejo revela agora que, entre 1980 e 2015, houve 5296 mortes prematuras devido ao calor, de acordo com o artigo publicado no final de dezembro na revista científica BMC Public Health. Enquanto Presidente da CIMAL – Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral, como é que olha para estes números?

Com muita preocupação, obviamente. As alterações climáticas são uma realidade e para mitigarmos os seus efeitos é necessário colocar em marcha um conjunto de medidas. Foi precisamente por isso que foi desenvolvido o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Alentejo Litoral (PIAAC-AL), que prevê medidas concretas e planeadas para curto, médio e longo prazo, que serão implementadas ao longo de dez anos.

Com as alterações climáticas, os principais riscos que o Alentejo Litoral enfrenta são o aumento da temperatura média anual, a subida do nível do mar, e fenómenos de seca extrema e inundações, pelo que o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Alentejo Litoral (PIAAC-AL) tem como objetivo garantir a melhoria da qualidade de vida das populações de Alcácer do Sal, de Grândola, de Odemira, de Santiago do Cacém e de Sines.

– No futuro, o Alentejo vai ter fenómenos de pico cada vez mais frequentes, um aumento progressivo das temperaturas e os períodos de precipitação vão ser menores. O que é que população e agentes do território podem fazer para enfrentar esta situação?

A gestão eficiente da água, um recurso vital para os três pilares da economia do Alentejo Litoral – agricultura, indústria e turismo – é uma das prioridades. A região tem reservas consideráveis de água no subsolo, mas não são inesgotáveis. Com o previsível aumento dos períodos de seca e, consequentemente, uma redução da precipitação, o Alentejo Litoral terá de incrementar a poupança de água não só nestes setores económicos, mas também no consumo doméstico. Isso inclui a anulação de perdas na rede de distribuição e uma monitorização dos consumos de água em todos os setores, a par do investimento na melhoria das redes de distribuição.

Ainda ao nível dos recursos hídricos, será necessário diversificar a sua origem, nomeadamente com o recurso à dessalinização de água do mar.

O plano refere também o aumento o número de pequenas barragens, que irão permitir o aumento de água no solo, combatendo a desertificação enquanto aumenta a quantidade de água disponível, incluindo para fins agrícolas e pecuários.

O documento destaca ainda medidas como a criação de sistemas para aproveitar as águas pluviais e sua posterior utilização, nomeadamente para rega, e a promoção de boas práticas e técnicas agrícolas e silvícolas para aumentar a quantidade de carbono nos solos, que tende a reduzir com a diminuição das chuvas.

– O Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Alentejo Litoral (PIAAC-AL) faz um retrato da região e apresenta ações concretas e planeadas – para o presente, mas também para médio e longo prazo – por forma a fazer face aos desafios ambientais e salvaguardar as comunidades, os ecossistemas e as gerações futuras do litoral alentejano. Que ações são essas?

Além das medidas referidas anteriormente, será também necessário monitorizar e prevenir a evolução da água salgada nos estuários dos rios, lagoas costeiras e aquíferos. Isso é particularmente importante na preservação da produção de arroz, que tem no Alentejo Litoral a segunda maior área do país depois do vale do Sorraia.

Será também essencial reduzir a exposição aos fatores extremos, mitigando os seus efeitos e dotando o nosso território de condições que preservem o nosso vasto património natural, nomeadamente através do reforço dos meios de combate a incêndios.

A médio prazo – e porque a natureza precisa de tempo –, temos de apostar na resiliência e na capacidade do nosso meio ambiente de resistir e adaptar-se à nova realidade climatérica. Importa também sensibilizar a população do Alentejo Litoral e quem nos visita para a importância de adotarem atitudes e comportamentos que assegurem a preservação dos recursos essenciais para a nossa subsistência.





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