ESG: é difícil gerir e reportar dados porquê?



Por Jady Wailante, Strategic Account Manager na Quidgest

O reporting ESG (Environmental, Social and Governance) transformou-se num pilar essencial para as organizações que procuram não apenas cumprir com a conformidade legal e regulamentar, mas também demonstrar o seu compromisso com o impacto climático e com práticas mais responsáveis. No entanto, apesar da crescente importância do tema, são muitas as dificuldades encontradas pelas organizações ao longo do processo – sobretudo do ponto de vista tecnológico, no que respeita à recolha, monitorização e análise de dados. Vejamos:

  • Complexidade dos dados: As organizações precisam de recolher dados que vão desde a utilização de água, as emissões de carbono e a gestão de resíduos às políticas laborais e de igualdade de género, além de práticas de governança corporativa. Esta enorme variedade de dados ESG requer uma automatização minuciosa durante as etapas de recolha, validação, report e análise, pelo que muitas organizações enfrentam a falta de ferramentas e processos adequados que garantam uma gestão de informação eficiente e precisa, bem como integrada, e respondam de uma forma abrangente e rigorosa às obrigações regulatórias e expectativas dos diferentes stakeholders.
  • Falta de padrões uniformes: Apesar dos esforços levados a cabo por entidades como o Sustainability Accounting Standards Board (SASB), o International Integrated Reporting Council (IIRC) e a própria Global Reporting Initiative (GRI), a amplitude e constante evolução das frameworks de reporting leva a inconsistências na forma como os dados ESG são apresentados, comparados e interpretados. Esta situação resulta em dificuldades para stakeholders (incluindo investidores, reguladores e clientes/consumidores), que procuram avaliar o desempenho sustentável de uma organização de maneira estandardizada e objetiva. Sem uma linguagem comum ou um conjunto coerente de critérios para medir e comunicar iniciativas de sustentabilidade, as organizações correm o risco de verem os seus esforços mal interpretados ou subvalorizados, aumentando também o risco de incidências de greenwashing.
  • Recursos limitados: A escassez de recursos — financeiros, humanos e tecnológicos — é um obstáculo no momento de colocar em prática a estratégia de sustentabilidade das empresas e ressalta a necessidade de abordagens eficientes e inovadoras para implementar sistemas de gestão e reporting A automação do desenvolvimento de soluções de software, com ajuda de novas funcionalidades permitidas pelos avanços da Inteligência Artificial Generativa, é um caminho que permite a redução substancial dos custos associados à elaboração e análise destes relatórios, bem como minimiza a dependência de grandes equipas de desenvolvedores/TI.
  • Mudanças regulatórias: Desde 2023, a União Europeia tem vindo a adotar uma abordagem proativa para padronizar e aumentar a transparência dos relatórios ESG, através de três regulamentações chave: a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), a Taxonomy Regulation e a Sustainable Finance Disclosure Regulation (SFDR). Estas regulamentações não só ampliam o espectro das empresas obrigadas a divulgar as suas práticas ESG, como também promovem práticas de investimento mais sustentáveis e orientam as organizações na transição para uma ‘economia de baixo carbono’, exigindo que informações detalhadas e comparáveis estejam acessíveis em todo o território europeu.

Mas o cenário regulatório evolui também a uma escala global, o que aumenta a complexidade dos processos de reporting e força as organizações a adotarem soluções de gestão de informação com capacidade de adaptação ágil. A introdução de regulamentações como a Non-Financial Reporting Directive (NFRD) e as as novas propostas da Securities and Exchange Commission (SEC), nos Estados Unidos; ou as Guidelines for Environmental Information Disclosure e a Green Securities Guidelines, na China, refletem a crescente procura mundial por maior transparência nas operações corporativas e na aplicação do conceito de dupla materialidade*. Estas leis obrigam as empresas a considerar não apenas os impactos financeiros, mas também os sociais, ambientais e de governança, de modo a mitigar riscos reputacionais e assegurar conformidade regulatória num mercado cada vez mais consciente e regulado.

  • Desafios de comunicação e interoperabilidade: A falta de integração entre sistemas de gestão e a estratégia ESG, bem como com dados de entidades externas (fornecedores, reguladores…) apresenta desafios técnicos substanciais. Sem uma interoperabilidade eficaz, torna-se difícil, ou mesmo impossível, combinar dados operacionais sobre a utilização de recursos com indicadores financeiros, avaliar a eficiência económica e a gestão otimizada de recursos; ou até alinhar políticas de gestão de RH com objetivos ESG para promover a diversidade e a inclusão no ambiente de trabalho, por exemplo. A falta de sinergia, de comunicação fluida e de uma visão 360º dos diferentes dados, sistemas, departamentos e entidades envolvidos pode conduzir, inclusivamente, a um entendimento fragmentado e enviesado dos indicadores de sustentabilidade.

A aplicação do conceito de dupla materialidade e o reporting ESG não são um mero exercício de conformidade regulatória. Representam um compromisso com o impacto social e a agenda climática, além de promoverem uma maior transparência que reforça  a estratégia de negócios, a confiança dos stakeholders, a gestão proativa de riscos em tempo real – incluindo a sugestão de ações corretivas antes que estas se tornem necessárias – e a retenção de novas gerações de talentos alinhados com valores de sustentabilidade.

As organizações de diferentes dimensões e níveis de impacto socioambiental que reconhecem e capitalizam a importância destes indicadores não só fortalecem a sua competitividade no mercado e têm acesso a financiamentos e investimentos mais favoráveis, como também contribuem ativamente para a construção de um futuro mais justo, ético e com menor impacto climático. Em última análise, o reporting ESG não se trata apenas de situar uma organização no mapa da sustentabilidade, mas de conseguir saber como e para onde essa organização e o próprio planeta estão a caminhar.

* O conceito de dupla materialidade refere-se à necessidade das organizações avaliarem e reportarem tanto os impactos das suas atividades no meio ambiente e na sociedade (materialidade externa) como os riscos e as oportunidades ambientais, sociais e de governança que podem afetar a sua própria viabilidade e sucesso financeiro (materialidade financeira). Este conceito ajuda a garantir que os relatórios são abrangentes e abarcam as implicações externas e internas das operações organizacionais.





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