Espécies exóticas de mega-herbívoros podem não ser piores do que as nativas para a vegetação



A introdução e proliferação de espécies exóticas invasoras, que não são ‘naturais’ de um ecossistema e que ocupam os lugares de espécies locais, é considerada uma das atuais grandes ameaças à biodiversidade.

Por isso, algumas abordagens de restauro ecológico, como a renaturalização, por exemplo, procuram revitalizar dinâmicas tróficas ancestrais, com o foco em espécies autóctones, que evoluíram num determinado habitat e que são parte integrante dele.

Embora seja praticamente consensual que as espécies exóticas invasoras são um risco e devem ser bem geridas para proteger a estabilidade e funcionamento dos ecossistemas e, assim, travar perdas de biodiversidade, um grupo de investigadores sugere que nem todas as espécies introduzidas são necessariamente más para os ecossistemas.

Será o caso dos grandes herbívoros. Num artigo publicado na revista ‘Science’, cientistas da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, reviram 221 estudos que analisam os impactos de diferentes espécies nativas e exóticas de animais herbívoros nas comunidades locais de plantas.

Com base nos resultados, Jens-Christian Svenning, um dos principais autores, argumenta que a equipa não encontrou quaisquer evidências científicas que suportem a ideia de que os impactos da megafauna herbívora introduzida sejam mais significativos na vegetação nativa do que os causados pelas espécies autóctones.

“Em vez disso, encontrámos fortes indícios de que os traços funcionais desempenham um papel importante”, explica o investigador, em comunicado. Isto é, perceberam que o tamanho e o modo de alimentação dos grandes herbívoros influencia muito mais as comunidades de plantas do que propriamente a espécie em concreto.

Dizem os autores que animais de maior porte e que não são muito ‘picuinhas’ sobre as plantas que comem têm menores impactos na biodiversidade vegetal do que animais mais pequenos e mais seletivos.

Erick Lundgren, que também assina o estudo, afirma que não existe uma “cola mágica” que mantém unidos os animais e plantas que evoluíram lado a lado, salientando que espécies exóticas de grandes herbívoros podem ter tantos impactos na vegetação nativa quanto os animais autóctones.

Assim, estes investigadores sugerem que espécies exóticas de grandes herbívoros podem ser espécies exóticas, mas não serão espécies invasoras, pois não ameaçam a biodiversidade nativa dos ecossistemas nos quais foram introduzidas.

Contudo, há diferenças importantes a salientar. De acordo com este trabalho, animais como bisontes, búfalos e bovinos, por terem bocas maiores e por se alimentarem praticamente de toda a vegetação por igual, acabam por colocar “uma igual pressão em todas as plantas”, diz Svenning.

Por outro lado, herbívoros mais pequenos, como cabras e corços, “só comem plantas específicas de que gostem, e essas plantas tendem a declinar ou mesmo a desaparecer localmente”, salienta o investigador, indicando, assim, que os mega-herbívoros promovem uma maior diversidade de plantas do que os mais pequenos, que tendem a reduzi-la.

“Eu sei que soa um pouco estranho. Mas é o que os nossos resultados mostram”, reconhece Svenning. “Não estamos a dizer que as espécies não-nativas nunca têm efeitos indesejáveis; há certamente muitos exemplos disso. A questão é que, no que toca a grandes animais – que também tendem a ter amplas e variáveis distribuições e ecologias generalizadas – faz mais sentido focar-nos mais em traços” do que no facto de serem ou não espécies nativas de herbívoros.





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