Esta ave fica à escuta de avisos de cães-da-pradaria para escapar aos seus próprios predadores



Os cães-da-pradaria, do género Cynomys, são mamíferos roedores icónicas das grandes planícies da América do Norte. São animais altamente sociais, vivendo em colónias bem organizadas e partilhando tarefas.

Quando o perigo se aproxima, emitem vocalizações de alerta que instam os restantes membros do grupo a esconderem-se em toca abaixo da superfície do solo. Contudo, embora estes sinais de perigo iminente poderem ter como recetores outros cães-da-pradaria, é possível que outras espécies estejam atentas a eles e a usá-los também como deixas para se porem a salvo.

Cão-da-pradaria-de-cauda-preta (Cynomys ludovicianus). Foto: Roshan Patel / Smithsonian’s National Zoo and Conservation Biology Institute

Uma equipa de cientistas dos Estados Unidos da América (EUA), num artigo publicado recentemente na revista ‘Animal Behaviour’, revela que o maçarico-bicudo (Numenius americanus), uma ave que nidifica no solo, em paisagens de pradarias abertas, está atenta aos alertas dos cães-da-pradaria-de-cauda-preta (Cynomys ludovicianus). Isto, porque os predadores desse roedor serão também os seus predadores: falcões e águias, que vêm dos céus, e raposas, serpentes e texugos que se deslocam por terra.

Para perceber se existe, de facto, algum tipo de comunicação interespécies, ainda que não exatamente intencional (porque os cães-da-pradaria não lançam alertas para os maçaricos e estes últimos estão a ouvir os chamamentos “à socapa”), os investigadores simularam a aproximação de um texugo, um predador comum a ambas as espécies. Colocaram um texugo taxidermizado sobre um skate motorizado e encaminharam-no para perto de cães-da-pradaria, e gravaram os sons de alerta.

Depois, pegaram nessas gravações e reproduziram-nas para fêmeas de maçarico-bicudo que estavam a incubar ovos, enquanto o texugo taxidermizado se aproximava do ninho. E perceberam que as fêmeas se agachavam o máximo possível sobre os seus ovos, praticamente desaparecendo na vegetação, numa tentativa de escapar ao olhar do pretenso predador, fazendo uso da sua plumagem parda que serve de camuflagem.

Essa resposta dos maçaricos acontecia quando o texugo estava a cerva de 50 metros dos ninhos. Contudo, quando o movimento do texugo falso não era acompanhado pelos sons dos cães-da-pradaria, era capaz de se aproximar muito mais dos ninhos, menos de 20 metros, antes de os maçaricos darem conta do perigo.

Como tal, os cientistas consideram que estar à escuta dos chamamentos dos cães-da-pradaria é uma forma de os maçaricos se poderem esconder antes que seja demasiado tarde.

“Sabemos que os cães-da-pradaria são espécies-chave por causa da forma como eles alteram fisicamente o ambiente e criam casas para outras plantas e animais”, explica, em nota, Andy Boyce, do Instituto Smithsonian de Biologia da Conservação e um dos principais autores do estudo.

“O que não tínhamos percebido até agora é que, para além de serem construtores de casas, também podem estar a atuar como sistemas de segurança”, aponta, salientando que “este estudo demonstra que os cães-da-pradaria podem influenciar diretamente o sucesso reprodutivo de aves das pradarias e devem ser considerados partes importantes de qualquer plano de conservação”.






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