Estudo em Portugal determina que flores estão na Terra há 123 milhões de anos

Investigadores identificaram o pólen mais antigo produzido pelas eudicotiledóneas, o maior grupo de plantas com flor, em depósitos sedimentares em Portugal datados de há 123 milhões de anos.
Ulrich Heimhofer do Instituto LUH de Ciências do Sistema Terrestre (Universidade Leibniz de Hannover) e Julia Gravendyck do Instituto de Biologia Organísmica da Universidade de Bona, na Alemanha, juntamente com a sua equipa, identificaram o pólen fossilizado de angiospérmicas em sedimentos marinhos costeiros depositados na Bacia Lusitânica de Portugal, uma bacia sedimentar que se localiza na margem ocidental da placa ibérica.
Ainda não se sabe ao certo como se desenvolveram as plantas com flor, nem a partir de que plantas. No entanto, o que é considerado um facto é que as angiospérmicas tiveram um impacto duradouro no desenvolvimento da vida no planeta, ao enriquecerem significativamente a diversidade de espécies terrestres, noticiou na quarta-feira a agência Europa Press.
“O aparecimento de plantas com flores alterou significativamente a diversidade biológica”, sublinhou Heimhofer, citado num comunicado.
“Mas exatamente onde e quando este desenvolvimento começou é um mistério que Darwin já chamava de ‘mistério abominável'”, acrescentou Gravendyck.
Ainda não é claro qual a influência que os processos tectónicos de placas e as alterações climáticas em larga escala tiveram como possíveis impulsionadores do desenvolvimento das angiospérmicas.
Os grãos de pólen examinados provêm de camadas sedimentares depositadas num oceano pouco profundo há mais de 100 milhões de anos. Rios transportando material vegetal, bem como grãos de pólen, fluíam para este corpo de água.
Para detetar pólen específico nas amostras de sedimentos, a equipa de investigação utilizou primeiro o sinal de fluorescência intensa do pólen das angiospérmicas, um grupo raro.
Utilizando microscopia de varrimento laser de alta resolução, quatro microfósseis individuais foram identificados como grãos de pólen tricolpados.
O termo “tricolpado” refere-se à morfologia dos grãos, que apresentam três pequenos sulcos na sua parede externa. Atualmente, aproximadamente 72% das espécies de angiospérmicas vivas produzem pólen tricolpado.
Com base na sua configuração tricolpada característica, os grãos foram classificados como originários de plantas com flor.
Conchas fossilizadas da mesma camada de sedimento foram também examinadas através de análise de isótopos de estrôncio. As conchas, constituídas por carbonato de cálcio, armazenam a assinatura química da água do mar no momento da sua formação.
Consequentemente, a assinatura isotópica de estrôncio da água do mar circundante também é registada na concha. Isto pode ser comparado com as curvas de referência existentes para a datação da formação de conchas.
As idades determinadas desta forma para sedimentos marinhos pouco profundos são muito mais precisas do que a datação convencional utilizando fósseis.
Ao combinar a datação isotópica de estrôncio de conchas fossilizadas com informação bioestratigráfica, os investigadores não só anteciparam o aparecimento mais antigo conhecido do pólen tricolpado em aproximadamente dois milhões de anos, como também forneceram a evidência mais precisa e fiável para o primeiro aparecimento de plantas com flores eudicotiledóneas.
A posição paleogeográfica da Bacia Lusitânica sugere que as primeiras formas de angiospérmicas, que se pensa terem-se desenvolvido nos trópicos, eram possivelmente mais comuns nas latitudes médias do que se acreditava anteriormente.
Na perspetiva da equipa de investigação, a nova abordagem pode servir de modelo para melhorar a datação dos restos de plantas fossilizadas e permitir uma melhor compreensão das origens e diversificação das angiospérmicas.