Estudo Fundação Francisco Manuel dos Santos: “Como comemos o que comemos”



O estudo “Como comemos o que comemos: um retrato do consumo de refeições em Portugal”, divulgado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), analisa a importância que “as mais de 200 decisões que tomamos todos os dias sobre comer e beber têm para cada indivíduo e para a sociedade nas múltiplas dimensões do quotidiano, para lá do domínio estrito da função nutritiva”, sublinha a FFMS em comunicado.

Da autoria de Ana Isabel Costa (CATÓLICA-LISBON School of Business & Economics), Cláudia Simão e Ana Rita Farias (ISCTE-IUL), Mariana Rei, Sara Rodrigues, Duarte Torres e Carla Lopes (Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto – ISPUP), este estudo procura aprofundar o conhecimento sobre os hábitos de consumo de refeições dos portugueses na atualidade, tendo por base dados estatísticos já existentes e dados recolhidos pelos autores, num inquérito conduzido em 2021.

A investigação pretendeu responder a um conjunto de questões, tais como: Quais são as suas práticas de planeamento, aquisição, conservação, confeção, apresentação, ingestão e descarte de alimentos, e como evoluíram nos últimos 20 anos? Que fatores demográficos, socioeconómicos e motivacionais lhes estão associados? Como se compara a realidade portuguesa com a de outros países? Que impacto têm estes hábitos na dieta, saúde e segurança alimentar dos portugueses?  E em que medida deveriam ser tidos em conta nas políticas públicas nacionais?

Assim, sobre o consumo e a despesa em alimentação, a análise permitiu concluir que os portugueses passam cerca de duas horas por dia a comer, ou seja, quase metade do tempo de lazer diário é dedicado às refeições e que a grande maioria das refeições ocorre em casa (72%), sobretudo o pequeno-almoço e o jantar, “o que significa que menos de um terço das refeições têm lugar fora de casa, incluindo em casa de amigos ou familiares”.

Além disso, o almoço é a refeição que os portugueses mais fazem fora de casa (42% das vezes). A maioria dos almoços fora de casa ocorrem no local de trabalho ou ensino (21%) mas também em restaurantes (9%), em casa de familiares e amigos (8%) ou em cafés e padarias (3%).

Segundo a mesma fonte, o jantar – fora de casa acontece apenas 13% das vezes. Nestas ocasiões, é mais frequente ocorrer em casa de familiares e amigos (6%) do que em restaurantes (4%) e a decisão de comer fora de casa “é influenciada pela situação económica das famílias, estando relacionada com os seus rendimentos e situação profissional”. Ir a um restaurante é mais comum entre as pessoas com rendimentos e níveis de escolaridade mais elevados, e que residem em grandes centros urbanos, sublinha o estudo.

O estudo revela ainda que, face às famílias com rendimentos inferiores, as famílias com rendimentos mais elevados “têm despesas com alimentação duas vezes maiores, e a prática de encomendar comida para casa é oito vezes mais frequente e que a proporção da despesa em consumo alimentar caseiro é superior no caso dos idosos, cuja principal fonte de rendimento são as pensões de reforma ou outras prestações sociais”.

Dois terços das refeições dos residentes em Portugal são de confeção não doméstica

No que diz respeito à confeção de alimentos, o estudo demonstrou que dois terços das refeições consumidas pelos residentes em Portugal são de confeção não doméstica (ou seja, produzidas, preparadas e/ou confecionadas fora de casa). Ao pequeno-almoço e ao lanche, 90% do que consumimos é de confeção não doméstica; ao almoço, a proporção de alimentos não-domésticos reduz, mas continua a ser mais de metade (55%). É, de facto, ao jantar que os portugueses mais cozinham (56%) e a confeção doméstica aumenta;

A análise conclui também que metade dos portugueses dedicam, pelo menos, uma hora por dia à cozinha. 27% cozinham, mas gastam menos de uma hora diária a fazê-lo, e 2 em cada 10 nunca cozinham e que um quarto da população jovem ou adulta dedica pouco ou nenhum tempo diário a cozinhar, e “tende a desvalorizar os benefícios práticos de confecionar e consumir refeições em casa regularmente”. Por oposição, “valorizam a conveniência, a socialização e o entretenimento proporcionado pelo consumo alimentar não-doméstico”.

Entre as mulheres, 3 em cada 4 passam, pelo menos, uma hora por dia a cozinhar – uma percentagem três vezes superior à da realidade masculina e se ao tempo despendido a cozinhar for somado o tempo dedicado, pelas mulheres, a prestar cuidados à família ou a desempenhar outras tarefas domésticas, “conclui-se que estas exercem, em cada mês, mais de dois dias de trabalho não remunerado do que os homens”.

O estudo permitiu, ainda, concluir que “uma alimentação baseada em produtos que não são confecionados em casa está associada a um menor nível de atividade física e, além disso, afasta os portugueses de uma dieta mediterrânica, que é considerada mais saudável”.





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