Estudo revela método para detetar toxinas de algas nocivas em popular crustáceo consumido na Austrália
Um novo estudo da Murdoch University lança luz sobre o que acontece quando peixes e crustáceos expostos a toxinas de florescências de algas acabam no prato dos consumidores. A investigação desenvolveu um método analítico capaz de identificar toxinas num dos mariscos mais apreciados do país e testou ainda formas eficazes de reduzir a sua concentração.
Desde o início de 2025, as águas costeiras da Austrália do Sul têm sofrido os impactos das florescências tóxicas de algas, responsáveis por fortes danos nos ecossistemas marinhos e por episódios significativos de mortalidade de peixes. Perante este cenário, a investigadora Cherono Kwambai, do Algae Innovation Hub da Murdoch University, decidiu aprofundar o risco que estas toxinas representam para a saúde pública.
O trabalho incidiu sobre a espécie Alexandrium minutum, conhecida pelo seu potencial tóxico. A investigadora identificou que o caranguejo-azul (Blue Swimmer Crab) — o crustáceo mais capturado no país, com colheitas anuais entre 500 e 800 toneladas — acumula estas toxinas no hepatopâncreas, um órgão vital nos artrópodes e moluscos. A deteção, até agora difícil, tornou-se possível graças ao método por si desenvolvido e validado.
Para além da identificação, Kwambai testou técnicas de redução da carga tóxica após a captura, bem como métodos de remoção das células tóxicas da água. “Examinei também os efeitos da cozedura e da congelação, e concluí que congelar e descongelar pode reduzir significativamente as concentrações de toxinas”, explica.
Numa segunda fase, a investigadora realizou ensaios de pequena escala com argila modificada com PAC, aplicada diretamente à água contaminada. Os resultados revelaram uma eficácia de remoção de até 100% das células tóxicas em apenas duas horas, mesmo a baixas concentrações. A utilização desta argila em ambientes salinos demonstrou vantagens operacionais e de custo, além de apresentar riscos mínimos para os organismos que vivem no fundo marinho — fatores que sustentam a necessidade de testes em maior escala.
Para Cherono Kwambai, o projeto representou uma oportunidade para transformar conhecimento académico em soluções práticas: “Quis aproximar a ciência do quotidiano, contribuindo para a proteção dos ecossistemas e para a sustentabilidade das pescas.”
O professor Navid Moheimani, supervisor principal e responsável pelo Algae Innovation Hub, sublinha a importância do trabalho: “Este estudo demonstra o que é possível alcançar quando a investigação se concentra em desafios ambientais locais. A colaboração estreita com as autoridades é essencial para garantir que a ciência conduz a soluções concretas e benéficas para os nossos ecossistemas costeiros e para as indústrias que deles dependem.”