EUA: agricultura ganha cada vez mais dinheiro, mas ele não entra no bolso dos agricultores



No último ano, o US Department of Agriculture – espécie de Ministério da Agricultura dos Estados Unidos – compilou alguns dados sobre o sector, num censo que decorre a cada cinco anos.

A primeira conclusão do estudo explica que a agricultura norte-americana ganha cada vez mais dinheiro. Em 2012, os agricultores norte-americanos venderam €285 mil milhões (R$ 927 mil milhões) em produtos, mais 33% que em 2007. Na verdade, este número não surpreende, uma vez que os preços estão cada vez mais altos, mas o estudo questiona quem está, realmente, a ganhar dinheiro neste sector – alguns especialistas dizem que não é no bolso dos agricultores que este dinheiro está a entrar – e isso explica alguns dos restantes dados do relatório.

O estudo alerta para o crescimento das grandes quintas agrícolas e desaparecimento das explorações médias. O número de pequenas quintas manteve-se em linha com os números de 2007, mas a verdade é que estas não estão a ganhar dinheiro. Quase metade – 1 milhão – das 2,1 milhões de explorações agrícolas norte-americanas dependem de um membro da família a full time, mas mesmo estas não dão dinheiro, nem nos anos agrícolas mais prósperos.

Por outro lado, o número de pessoas que identificavam outra ocupação para além da agricultura desceu 9% em relação a 2007, mas estes números também não são positivos. “Acho que este número reflecte a falta de empregos nas comunidades rurais”, explicou ao Civil Eats Katherine Ozer, directora-executiva da National Family Farm Coalition.

Agricultores estão mais velhos

O censo concluiu que os agricultores norte-americanos estão mais velhos, com uma idade média de 58 anos, e que este número tem estado a crescer há 30 anos. Ainda assim, o número de agricultores entre os 25 e os 34 anos tem subido.

“O número de jovens agricultores está a crescer, mas a faixa entre os 35 e 44 está mais baixa”, explicou Traci Bruckner, do Center for Rural Affairs.

O número de quintas agrícolas também está a decrescer em relação a 2007 – 4% -, assim como os agricultores do sexo masculino (4%) e feminino (6%). Ainda assim, há mais mulheres que dizem que a agricultora é o seu único emprego (125 mil contra 122 mil em 2007). “Há cada vez mais mulheres a seguirem uma carreira na agricultora”, explica Bruckner.

Curiosamente, estas mulheres são mais velhas, situando-se, na sua maioria, entre os 55 e 75 anos. O que significa que poderão estão a entrar na agricultura como uma segunda carreira ou para cultivar um terreno herdado.

A agricultura como uma obrigação

Segundo o jornal The Guardian, os norte-americanos cozinham cada vez menos e cozinhar tornou-se um hobby – as pessoas cozinham acompanhando os chefs na televisão. A perda de dotes culinários significa que os cidadãos norte-americanos estão cada vez mais distantes dos agricultores e, por outro lado, cerca de 40% das suas refeições são solitárias.

Por outro lado, os norte-americanos não vêem a carreira agrícola com bons olhos, e os que a escolhem são, quase sempre, obrigados a fazê-lo.

Todos estes dados têm um significado: ainda que faça mais dinheiro, o sector da agricultura, nos Estados Unidos, passa por um período de grandes desafios e terá de se reinventar rapidamente. Tal como na Europa, aliás.

Foto:  PhillipC / Creative Commons






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