EUA: sector da reciclagem está numa encruzilhada



A indústria norte-americana da reciclagem está a passar por uma das maiores crises de sempre, resultado da redução do preço das commodities, uma menor procura externa por recicláveis e uma mudança nos sistemas de reciclagem dos municípios.

De acordo com o The Washington Post, muitos dos centros de reciclagem norte-americanos estão a perder dinheiro, uma situação que não poderá continuar por muito tempo e que levará muitas empresas à falência ou a serem “engolidas” por outras de dimensão maior. “Se as pessoas acham que reciclar é importante – e, cada vez mais, elas acreditam que sim – então estamos a falar de uma crise nacional”, explicou ao Post o CEO da Waste Management, David Steiner.

O problema dos contentores

Segundo responsáveis da indústria, a forma como os municípios estão a abordar a reciclagem não está a ajudar o sector. Os ecopontos azuis utilizados para reciclar estão cada vez maiores, e os cidadãos estão a tornar-se, por sua vez, mais indiscriminados no tipo de materiais que lá colocam.

“Ao tentar encorajar a reciclagem, os legisladores progressistas e ambientalistas tornaram o problema pior. Os municípios tentam aumentar as taxas de reciclagem com contentores maiores – ao invés de pedirem aos consumidores para separar o lixo – mas o fluxo de reciclagem tornou-se mais poluído e menos valioso, dando cabo de toda economia do sistema”, explicou Bill Moore, consultor da indústria. “Isto leva-nos a pensar que reciclar é gratuito. Nunca foi gratuito e, na verdade, será cada vez mais caro”.

Agora, há embalagens de espuma, sapatos e outros artigos a serem colocados no ecoponto azul da reciclagem, complicando o trabalho dos centros. Por outro lado, a descida do preço dos combustíveis e uma menor procura por parte da China e outros países por produtos recicláveis esmagou as margens de lucro de muitas empresas.

Mais resíduos, menos lucros

A ideia dos contentores azuis surgiu nos anos 90, na Califórnia. Vários ambientalistas acreditavam que os cidadãos apenas iriam aderir à reciclagem se ela fosse de fácil execução: bastava pôr um objecto no contentor e, como por magia, ele seria automaticamente separado e reutilizado.

Um dos problemas deste sistema está relacionado com a reciclagem do vidro. Mais de um terço dos vidros reciclados acaba por partir-se, contaminando os outros resíduos. Nos últimos anos, outros materiais acabaram por se auto-contaminar, e o problema agravou-se quando os municípios aumentaram o tamanho dos contentores.

Os cidadãos estão a utilizar os contentores, agora maiores, para colocar todo o tipo de lixo. Com mais espaço, alguns deles deixaram ainda de dobrar as caixas de cartão, o que significa mais trabalho nos centros de reciclagem e menos espaço dentro dos camiões de transporte.

Mais resíduos indeterminados significam também menos lucros para as empresas e dores de cabeça para os municípios.

Crise é cíclica?

A Waste Management pode ser vista como o barómetro do sector: é a maior empresa de reciclagem dos Estados Unidos, com mais de 50 centros por todo o país, mas a sua divisão de reciclagem perdeu €14 milhões no primeiro trimestre do ano. Nos últimos meses, a Waste Management fechou quase uma em cada dez das suas maiores centrais – e outras estão previstas para o próximo ano.

Para Eric A. Goldstein, advogado da Natural Resources Defense Council, ONG que monitoriza os resíduos sólidos e reciclagem em Nova Iorque, o mercado da reciclagem amadureceu. “Na sua generalidade, ele tem evoluído na direcção certa”, explicou. “E isto sem termos em conta o impacto externo de enviar produtos para as lixeiras”.

Para Goldstein, os três anos de prejuízos na indústria e mais custos para os municípios não passam de uma crise cíclica. Porém, e tendo em conta os modelos europeus de separação de resíduos, parece certo que a indústria norte-americana terá de mudar, sob pena de o lixo se tornar um fardo demasiado grande para municípios e, em última análise, cidadãos.

Este artigo faz parte de um trabalho especial sobre Resíduos, publicado durante o mês de Junho e promovido pela Sociedade Ponto Verde. Todas as sugestões de temas podem ser enviadas para info@greensavers.sapo.pt. Siga a SPV no Facebook, YouTube, Pinterest ou Linkedin e assine a sua newsletter.

Foto: Dan McKay / Creative Commons





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