Exclusivo Nuno Sequeira, Quercus: “A crise que atravessamos é também ambiental”



Um mês e meio depois de ter sido nomeado presidente da Quercus, substituindo Susana Fonseca, que passou a vice-presidente, Nuno Sequeira deu ao Green Savers uma das suas primeiras entrevistas no cargo.

Admitindo que esta direcção nacional da Quercus “assenta na anterior”, com um misto de “renovação e continuidade”, o professor de Avis, recorda que “a crise que atravessamos não é só económica, é também ambiental”.
 

Quais os grandes objectivos do seu mandato à frente da Quercus?

Os grandes objectivos passam por fortalecer internamente a Quercus, para que deste modo continuemos a crescer do ponto de vista externo. Pretendemos que a sociedade, à semelhança do que acontece há 25 anos, possa contar com uma Quercus atenta e interventiva, numa postura de abertura e de diálogo permanente, mas também de aplicação firme dos valores em que acredita.

Qual a duração do seu mandato?

O mandato desta direcção nacional, à semelhança dos restantes órgãos sociais da Quercus eleitos na última Assembleia Geral, é de dois anos, pelo que estaremos em funções até ao final de Março de 2013.

A sua antecessora, Susana Fonseca, está na vice-presidência da sua lista. Isto quer dizer que esta é uma presidência de continuidade?

Podemos dizer que esta direcção nacional da Quercus assenta na anterior, com um misto de renovação e continuidade. Na verdade, um quarto dos elementos eleitos nesta lista são novos, pelo que me parece que podemos falar de uma renovação tranquila, com todos os aspectos positivos que ela acarreta, tanto em termos de novidade como de experiência acumulada.

A Susana Fonseca fez um excelente trabalho como presidente da anterior direcção nacional, é uma pessoa que já há muitos anos dá o que de melhor tem ao serviço da Quercus e do ambiente, e é uma honra podermos contar com ela na vice-presidência desta direcção.

Susana Fonseca, numa entrevista recente ao Green Savers, disse que a Quercus desejava ter mais influência política. Mantém este desejo na sua presidência?

Sim, a Quercus vai continuar a apostar no diálogo, na mobilização e na participação pública como forma de levar à sociedade as mudanças que pretende operar. Falamos obviamente de mudanças (para melhor) no sector do ambiente, que é a nossa área de actividade, mas também em outras que na maior parte das vezes se cruzam com estas, como são as mudanças a nível social e económico. A influência política, que não significa no nosso caso influência partidária, é a capacidade que pretendemos continuar a ter, e se possível aumentar, para junto dos nossos decisores poder influenciar positivamente as políticas do ambiente.

Na mesma entrevista, Susana Fonseca realçou, porém, a influência que a Quercus já tem a nível empresarial, com parcerias com várias empresas. Esta será também uma área a apurar no seu mandato?

A Quercus tem conseguido nos últimos anos trabalhar em parceria com diversas entidades do mundo empresarial e julgamos que essa tendência será para manter, dado que estas organizações são fundamentais na sociedade dos dias de hoje. Assim, se por um lado com as parcerias desenvolvidas é possível obter apoio para diversas iniciativas de cariz ambiental, não deixa de ser muito importante que também consigamos desta forma exercer um papel positivo e activo na conduta ambiental das empresas envolvidas.

O conturbado clima económico português e a instabilidade política poderão ser, de alguma forma, inimigos da estratégia da Quercus como influenciadora de projectos relacionados com o desenvolvimento sustentável em Portugal?
Sim, é verdade que numa situação difícil como esta que o país está a atravessar, a tendência será de olhar mais para os ganho imediatos e menos para aqueles que nos podem trazer benefícios a médio/longo prazo, mas penso que deve ser o papel da Quercus alertar para estas importantes opções ambientais, que são também económicas e políticas, e que devem ser tomadas nos dias de hoje, sem adiamentos, sob risco de pormos em causa o nosso futuro.

Acredita que, com esta crise económica e política, projectos relacionados com o desenvolvimento sustentável poderão ser preteridos em detrimento de outros mais baratos – e menos sustentáveis?

A tendência mais fácil é realmente essa e o risco de pessoas e organizações menos informadas ou conscientes do ponto de vista ambiental, virem a tomar opções que tenham como único objectivo o lucro imediato é grande. Contudo essa não é certamente a opção mais sustentável para o planeta e é preciso que aprendamos com os erros passados e não nos esqueçamos que o futuro depende do que façamos hoje.

Ou, pelo contrário, esta crise pode funcionar como uma oportunidade para mudarmos para estilos de vida mais sustentáveis?

Sim, pode e deve servir para isso. É preciso não esquecer que a crise que atravessamos é não só económica, mas também ambiental, isto apesar do enfoque dos últimos tempos, tanto ao nível da comunicação social como do discurso político, se centrar apenas na vertente económica. Estamos a enfrentar problemas mundiais tão graves como o aquecimento global e a perda de biodiversidade que, em conjunto com o crescimento exponencial da população humana e a alteração dos seus padrões de consumo, podem vir a ter a consequências catastróficas no futuro do nosso planeta.

A espécie humana tem vindo a adoptar um padrão de desenvolvimento completamente insustentável, assente na depleção crescente dos recursos naturais e esperemos que esta crise possa realmente funcionar como uma oportunidade para evoluirmos para um outro paradigma, que garanta um futuro mais sustentável.

Foto: Semanário Linhas de Elvas





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