Florestas protegidas armazenam carbono equivalente a um ano de emissões globais
Na mitigação das alterações climáticas, as soluções baseadas na Natureza são uma peça fulcral. Os habitats e ecossistemas, pelo seu funcionamento, são capazes de captar e reter grandes quantidades de carbono, ajudando a aliviar o efeito de estufa que faz aquecer a Terra.
Analisando imagens de satélite recolhidas por tecnologia instalada na Estação Espacial Internacional, um grupo de cientistas calculou que as florestas protegidas são capazes de armazenar, na sua biomassa acima do solo, cerca de mais 9,65 mil milhões de toneladas de carbono do que as florestas semelhantes em áreas sem proteção. Este valor equivale a um ano inteiro de emissões de dióxido de carbono (CO2) em todo o mundo.
Por isso, os investigadores consideram que estes dados reiteram uma centralidade que não deve ser ignorada das áreas protegidas no combate às alterações climáticas.
“Esta investigação é de uma importância vital para a documentação do valor das áreas protegidas, não só pelos benefícios para a biodiversidade, mas também pelos benefícios climáticos fornecidos pelas florestas”, considera Scott Goetz, da Northern Arizona University e um dos autores do artigo publicado há dias e que dá conta da descoberta.
O investigador explica que as árvores captam CO2 da atmosfera e armazenam-no nos seus troncos e folhas, mesmo depois de mortas, ou seja, na biomassa que está acima do solo. Com base nos dados obtidos, a equipa comparou a capacidade de sequestro de carbono das florestas em áreas protegidas e em áreas não protegidas, e conclui que as primeiras, de facto, são muito mais eficazes nessa tarefa do que as outras.
A análise das imagens permitiu também perceber que é na Amazónia brasileira que está a maior quantidade de carbono retido acima do solo em áreas protegidas, cerca de 36% do stock global.
Para este trabalho, os cientistas usaram dados recolhidos pelos instrumentos da missão GEDI, da NASA, entre abril de 2019 e setembro de 2020, resultando em mais de 400 milhões de pequenos mapas em três dimensões (3D) das áreas florestais protegidas. Essas estruturas foram depois comparadas com áreas não protegidas, tendo como indicadores dados climáticos, a pressão humana e os tipos de solo, entre outros.
“Estes resultados são uma novidade no sentido em que fornecem as primeiras e tão antecipadas evidências de que as áreas protegidas estão realmente a sequestrar muito mais CO2 da atmosfera do que áreas semelhantes mas degradadas que estão à sua volta”, salienta Goetz.
Por isso, os autores defendem que é urgente travar a desflorestação e promover o restauro dos ecossistemas e da biodiversidade como medida fulcral para combater as alterações climáticas.
Para Patrick Roehrdanz, da Conservation International e que também assina este estudo, não há dúvida de que as áreas protegidas são “uma parte essencial” dos esforços de conservação e são fundamentais para que se possam evitar “os priores efeitos das alterações climáticas”.
Futuramente, estes investigadores querem também avaliar o real potencial das áreas protegidas na conservação da biodiversidade, sendo que Goetz acredita que essas zonas terão uma maior riqueza de espécies e uma maior abundância de espécies ameaçadas do que as que não têm proteção legal.