Florestas tropicais não se estão a adaptar suficientemente depressa às alterações climáticas

Um estudo que analisou 40 anos de dados revelou que as florestas tropicais não se estão a adaptar suficientemente depressa às alterações climáticas, o que suscita receios quanto à sua capacidade de sobrevivência à medida que a Terra aquece.
Bill Laurance, professor da James Cook University, foi coautor do novo documento. Segundo o docente, a compreensão da capacidade de adaptação das florestas às alterações climáticas é de importância crucial.
“As alterações climáticas são uma grande ameaça para as espécies selvagens e podem ser ainda mais importantes nos trópicos do que em muitos outros ecossistemas, porque as espécies tropicais estão adaptadas a temperaturas relativamente estáveis, em comparação com muitos outros locais”, afirma.
Cientistas de todo o mundo analisaram dados de 415 sítios florestais de longa duração que tinham sido monitorizados de 1980 a 2021. O conjunto de dados incluía informações sobre a identidade, o tamanho, o recrutamento e a mortalidade de mais de um quarto de milhão de árvores individuais nos trópicos, do México ao sul do Brasil.
“Esperamos ver certas mudanças nas árvores à medida que o mundo aquece. Por exemplo, as folhas mais pequenas dissipam o calor de forma mais eficaz e ajudam a evitar a perda de água”, sublinha.
“As plantas com folhas mais espessas e mais resistentes podem também resistir melhor à perda de água e a elevada densidade da madeira pode aumentar a capacidade de uma planta sobreviver a secas”, acrescenta.
Mas os cientistas descobriram que as plantas tropicais das Américas apresentavam apenas 8% das alterações necessárias para se adaptarem às alterações climáticas no seu local específico.
A notícia um pouco melhor é que, quando analisámos as plantas “bebés”, como as plântulas e os rebentos, descobrimos que apresentavam 21% das alterações necessárias para se adaptarem às alterações climáticas locais.
“Isto é ligeiramente melhor e sugere que as fases mais jovens das plantas podem mudar um pouco mais rapidamente nas suas caraterísticas do que as plantas maiores e maduras”, diz o Professor Laurance.
“Não há razão para pensar que as florestas tropicais da Austrália serão afetadas de forma diferente. As alterações climáticas estão a ocorrer tão rapidamente que muitas espécies estão a ser deixadas para trás, por assim dizer”, adianta.
“Em termos simples, muitas espécies de plantas tropicais não estão aparentemente a adaptar-se às rápidas alterações climáticas”, conclui, sublinhando que “é uma coisa assustadora de descobrir”.