Florestas tropicais podem demorar décadas a recuperar naturalmente depois de serem derrubadas



São precisos quase 20 anos para que as florestas tropicais possam recuperar naturalmente depois de terem sido alvo de desflorestação. Esse é o tempo que se estima ser preciso para o regresso de animais dispersores de sementes, que ajudarão a revitalizar as áreas devastadas.

Focos de biodiversidade e elementos importantes da regulação climática, as florestas tropicais estão a desaparecer um pouco por todo o mundo, incluindo aquelas que se consideram “prístinas” e intocadas pelos humanos. As árvores estão a ser derrubadas pela sua madeira, para converter os seus solos em zonas agrícolas e de pecuária intensiva, para abrir espaço para a incessante expansão humana.

Nessas florestas, os animais que se alimentam de frutos e dispersam as sementes de várias espécies vegetais são fundamentais para a manutenção desses habitats ricos em formas de vida. Por isso, um grupo de cientistas da Alemanha, Equador, Suíça e Panamá quis perceber ao fim de quanto tempo, após a desflorestação, essas criaturas regressam.

Através do estudo de 62 locais na floresta tropical húmida de Chocó, no Equador, os investigadores perceberam que os animais, especialmente aves como os tucanos e mamíferos, só retornam ao fim de décadas.

“O nosso estudo mostra que leva cerca de 20 anos para que sejam restabelecidas as interações entre plantas e animais ao nível da diversidade funcional encontrada em florestas não perturbadas”, explica, citada em nota, Anna Landim, do Centro de Investigação Senckenberg sobre Biodiversidade e Clima e primeira autora do artigo publicado na revista ‘Current Biology’.

“Os primeiros a regressar são pequenas aves que dispersam pequenas sementes. Os tucanos juntam-se a elas passados cerca de 10 anos, na melhor das hipóteses. Mamíferos maiores, como macacos-aranha, que também podem dispersar grandes sementes, levam mais tempo”, detalha a cientista.

A equipa avança que um elemento crucial para a recuperação de florestas tropicais desflorestadas é a proximidade a áreas intactas. Ou seja, quanto mais perto uma área em recuperação estiver de outras parcelas de floresta, mas fácil é para os animais regressarem aos locais desflorestados e reassumir os seus importantes papéis enquanto dispersores de sementes.

Por isso, em fragmentos florestais isolados “as importantes interações entre plantas e animais apenas recuperam muito lentamente”, indica Landim.

Avisam os investigadores que a recuperação natural de florestas tropicais leva tempo e que não respeitar essa janela temporal pode levar ao total desaparecimento de funções ecológicas, o que compromete a revitalização das áreas desflorestadas.






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