Folhas de ananás usadas como matéria-prima substituta do couro

Carmen Hijosa, a fundadora da Piñatex, diz que o novo têxtil sustentável por si criado, feito a partir de fibra das folhas de ananás, foi “uma das daquelas coincidências da vida”. Durante 15 anos, Hijosa trabalhou na indústria dos couros da Irlanda, até que foi convidada como consultora para a exportação destes têxteis, nas Filipinas.
Quando chegou à ilha, ela percebeu que o couro local tinha pouca qualidade, as condições de trabalho eram más e, por outro lado, impacto tóxico desta no ambiente era insustentável. Em vez de tentar, simplesmenete, exporta couro, ela sugerir que o país trabalhasse com um recurso abundante nas Filipinas, as fibras naturais.
Assim, ela começou a explorar várias fibras e, sobretudo, a das folhas de ananás. “Percebi que elas são muito fortes e flexíveis. Queria saber se elas poderiam transformar-se num têxtil parecido com o couro, mas para isso precisei de fazer uma investigação extensa. Por isso fui tirar um curso”, explicou ao Colectively.
Hijosa escolheu o Royal College of Art, de Londres, para tirar um doutoramento, e recorreu a consultoras espanholas para aperfeiçoar o produto. Depois, ela fundou a sua própria empresa, a Ananas Anam, patenteando a ideia. A primeira pergunta que se fez, depois de decidir usar o ananás como matéria-prima, foi se estas fibras seriam sustentáveis. Cinco anos depois, a resposta é “sim”.
Quando é encerado, o ananás pode ser um substituto do couro. Mas, dependendo dos acabamentos, também pode substituir pele de cobra, igualando qualquer produto de luxo. “Piñatex é um subproduto da indústria alimentar”, explicou Hijosa. “Assim que os ananases são recolhidos, as plantas são deixadas a apodrecer”. É aqui que entra a empreendedora, que compra estas folhas aos agricultores e extrai as fibras. Depois de alguns processos simples, estas ficam a parecer uma espécie de feltro.
Não é utilizada água, pesticidas ou fertilizantes no processo, ao contrário do que acontece no algodão, onde chegam a ser utilizados 20.000 litros de água para fabricar um quilo de algodão – suficiente, apenas para uma t-shirt ou um par de calças.
Em Dezembro, Hijosa apresentou o produto à Puma, Camper e Ally Capellino. Segundo a responsável, não se notam diferenças entre um protótipo da Piñatex e uns ténis da Puma.