Formação profissionalizante está a tornar-se menos atractiva para os jovens alemães



Em nenhum outro país a educação profissionalizante é tão bem-sucedida e reconhecida quanto na Alemanha. O modelo do ensino profissional alemão é um exemplo seguido e “copiado” por vários países, inclusivamente por Portugal – este é o modelo de ensino profissional que o ministro da Educação, Nuno Crato, quer implementar no país.

A receita para o sucesso é a combinação da prática e da teoria e a valorização social dos jovens que optam por este tipo de formação. Na Alemanha, quando concluem os estudos secundários – quer seja a Hauptschule (escola voltada para a qualificação profissional) ou o Gymnasium (escola direccionada para a os estudos superiores), os jovens têm a possibilidade de se candidatarem a uma vaga no ensino profissionalizante – cursos que habilitam os jovens para sectores/profissões específicas: cabeleireiro, canalizador, electricista. Existem cerca de 344 áreas profissionais diferentes para escolha.

Porém, os jovens que agora estão a concluir os estudos secundários estão a optar cada vez mais pelos cursos universitários (até há pouco tempo a percentagem de jovens que escolhia o ensino superior era muito baixa), mesmo aqueles que não vêm do Gymnasium, já que para se poderem candidatar ao ensino superior basta que passem no Arbitur, o equivalente aos exames nacionais do ensino secundário português.

Esta nova tendência entre os jovens alemães poderá ser preocupante a curto ou médio prazo, já que o pequeno comércio começa a ter dificuldades em encontrar jovens qualificados oriundos do ensino profissionalizante.

“A Alemanha arrisca-se a danificar a longo prazo o seu papel industrial e comercial se a tendência da ‘academização’ a todo o custo não for travada. Como é o caso dos países do sul da Europa atingidos pela crise, onde uma elevada taxa de formação universitária não garantia de emprego e avanço económico”, afirma Eric Schweitzer, presidente da Associação de câmaras alemãs do comércio e da indústria, ao Financial Times.

500 mil novos universitários em 2013

O número de jovens germânicos que iniciaram o ensino profissionalizante em 2013 diminuiu 4% para 530.700, o nível mais baixo desde a reunificação do país. As razões para o abandono do ensino profissionalizante estão a ser amplamente discutidas na Alemanha. Mas, maioritariamente o abandono reflecte uma tendência demográfica: a diminuição da taxa de natalidade. Aliado à diminuição do número de nascimentos está também a introdução do Processo de Bolonha, que veio uniformizar o ensino superior na maioria dos países europeus e reduzir as licenciaturas a três anos. Antes da introdução de Bolonha, uma licenciatura na Alemanha tinha a duração e cinco anos.

Cerca de 500 mil alemães iniciaram os estudos superiores universitários no último ano. Há uma década entravam, em média, 360 mil por ano nas faculdades. Porém, um em cada quatro destes estudantes nunca chega a concluir a licenciatura.

Um sinal desta preocupação com o mercado de trabalho alemão é o programa “Job of my life” que o Governo de Angela Merkel lançou, que pretende recrutar jovens portugueses entre os 18 e os 35 anos que pretendam trabalhar na Alemanha. O programa é uma parceria entre o serviço público de emprego alemão, o IEFP português e a rede Eures. O programa vem oferecer aos jovens cursos em empresas germânicas em diversas áreas: construção civil e obras públicas, mecânica, electrónica e automóvel, jardinagem, cozinha e hotelaria e cabeleireiro.

Embora a longo prazo a Alemanha possa vir a ter dificuldades para encontrar mecânicos, canalizadores ou cabeleireiros, a verdade é que actualmente a taxa de desemprego jovem é das mais baixas da União Europeia, cerca de 8%, o que compara com quase 50% de desemprego entre os jovens dos 15 aos 24 anos em países como Grécia e Espanha. No terceiro trimestre de 2013, a taxa de desemprego entre os jovens era de 35,7%, de acordo com os últimos dados do INE.

Foto:  Jenn Durfey/Creative Commons





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