Humanos conseguem compreender os gestos feitos por outros grandes primatas



Os humanos e outros grandes primatas, como chimpanzés, orangotangos e gorilas, todos parte da mesma família dos hominídeos, partilham uma ancestralidade genética, tendo divergido ao longo de milhões de anos de evolução. No entanto, algumas das características desse passado comum parecem ainda subsistir no Homo sapiens, a única espécie de humanos que existe nos dias de hoje.

Uma dupla de investigadores da Universidade de Saint Andrews, no Reino Unido, revela que os humanos, sem qualquer treino prévio em comunicação gestual, conseguem compreender pelo menos parte dos gestos feitos por grandes primatas, especialmente por chimpanzés (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus).

Para chegarem a essa conclusão, os cientistas puseram 5.500 pessoas a analisar vídeos curtos de chimpanzés e bonobos que executavam dez dos gestos mais comuns observados nesses animais. Ao humanos foi pedido que identificassem o significado dos gestos que viam, de entre quatro opções que lhes eram apresentadas, tendo acertado mais de 50% das vezes.

Quando aos participantes era dada informação acerca do contexto em que os gestos eram produzidos, os resultados pouco alteravam, levando a dupla de especialistas a concluir que os humanos conseguem identificar corretamente o significado dos gestos só pela sua mera observação.

Apesar de a dezena de gestos usados neste estudo não fazerem já parte da comunicação humana, os cientistas acreditam que ainda retemos alguma da capacidade que em tempos longínquos tivemos para compreender este “sistema de comunicação ancestral”.

Kirsty Graham, uma das autoras do artigo que dá conta da descoberta e que foi publicado na revista ‘PLOS Biology’, explica que “todos os grandes primatas usam gestos”. Contudo, a comunicação humana está tão repleta deles (quantas vezes não damos por nós a pensar que o nosso interlocutor ‘fala com as mãos’?) que “é muito difícil identificar gestos partilhados com os grandes primatas apenas observando as pessoas”.

Assim, esta experiência, que os investigadores dizem ser pioneira, permitiu descobrir que os humanos são capazes de perceber os gestos feitos pelos seu ‘primos genéticos’, o que sugere que esses movimentos comunicacionais “podem ser parte de um vocabulário de gestos evolucionariamente antigo e partilhado por todas as espécies de grandes primatas, incluindo nós”, salienta Graham.

Esta investigação é apenas a ‘ponta do icebergue’ de décadas de trabalho de registo e estudo dos significados de uma centena de gestos que os primatas usam nas suas interações sociais quotidianas. Só depois de saberem o que cada gesto dos primatas significava, é que os cientistas puderam avançar para a experiência com humanos.

Tanto Graham como a sua colega Catherine Hobaiter, a outra autora do artigo, passaram anos a estudar chimpanzés e bonobos nas florestas, especialmente as suas formas de comunicação.

Mas Hobaiter diz que talvez isso nem tivesse sido necessário, pois “podemos descodificar estes gestos quase instintivamente”, algo que nos recorda que, afinal, também somos primatas.

“Embora os humanos modernos tenham a linguagem [falada e escrita, por exemplo], mantivemos algum entendimento do sistema, ancestral e partilhado, de comunicação primata”, assinala.

No entanto, a investigação levantou outras questões: a nossa capacidade para interpretar corretamente os gestos de outros grandes primatas é algo que nos está nos genes ou deve-se ao facto de humanos e, por exemplo, chimpanzés serem espécies altamente inteligentes, sociais e fisicamente semelhantes?

Esses são mistérios para desvendar em futuras investigações.





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