Ilhas de Cabo Verde e Canárias geminam reservas da biosfera



As ilhas do Fogo, em Cabo verde, e El Hierro, nas Canárias (Espanha) são duas reservas da biosfera da UNESCO com múltiplas afinidades e decidiram fazer uma “espécie de geminação” para se enriquecerem mutuamente com as respetivas experiências.

Segundo disse hoje à Lusa a gestora da Reserva da Biosfera de El Hierro, Yurena Pérez, a ponte entre as duas ilhas foi feita através da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, no mesmo arquipélago espanhol, que já havia realizado trabalhos no Fogo e em El Hierro.

Os dois lados viram “a afinidade que têm as duas ilhas”, com tamanho e “estilo de vida” similares, e decidiram “fazer uma espécie de geminação entre as duas reservas da biosfera”, explicou.

Essa geminação materializou-se, ou ganhou “mais consistência”, nas palavras de Yurena Pérez, com um encontro hoje em El Hierro de responsáveis das duas reservas da biosfera, para partilha de experiências e análise dos desafios para o futuro, sob o mote: “Unidas pelo Atlântico, reservas da biosfera. Duas ilhas, um mesmo estilo de vida”.

As Reservas da Biosfera da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) são ecossistemas reconhecidos para responder ao desafio de conciliar a conservação da natureza com a presença humana, no sentido do desenvolvimento económico e social e da manutenção de valores e tradições culturais associados.

El Hierro é reserva da biosfera desde 2000 e o Fogo desde 2020, uma classificação com vinte anos de diferença que enriquece a partilha de experiências, pelo percurso já feito nas Canárias, por um lado, e pelo “trabalho especial” em determinadas áreas desenvolvido em Cabo Verde, por outro, explicou Yurena Pérez.

No caso do Fogo, há um trabalho “de uma maneira especial com a população local” que serve a El Hierro “como experiência a seguir”, nomeadamente, o consenso que se procura com a comunidade, “partindo de baixo, dessa base”, para avançar com novas iniciativas, afirmou.

Yurena Pérez destacou ainda a “muita experiência” que há no Fogo em áreas relacionadas com a conservação, como acontece com as aves marinhas, de que El Hierro pode tirar partido.

Já o Fogo pode nutrir-se da experiência de 23 anos de classificação pela UNESCO que El Hierro já tem a nível, por exemplo, da organização da gestão da reserva da biosfera, da relação com associações para realizar projetos ou das infraestruturas criadas no âmbito da própria reserva.

A gestora sublinhou que as reservas da biosfera têm sempre desafios e “muito trabalho a fazer” em permanência porque se trata de “algo bastante dinâmico”, da “relação entre o Homem e a natureza e o desenvolvimento económico de forma sustentável”.

Os desafios são por isso múltiplos e transversais, desde a conservação ambiental ao desenvolvimento económico da comunidade, passando pela investigação científica e aquele que, no entender de Yurena Pérez, é “a base de uma reserva da biosfera”: “chegar e transmitir à população local a importância e o beneficio que implica ser uma reserva da biosfera”.

“Tem muitos benefícios. Uma reserva da biosfera é um estilo de vida, é um modo de viver e esse título de reserva da biosfera é um distintivo de qualidade que significa que o modo de vida que se leva a cabo com o território aqui é o adequado. Mas claro, é preciso cuidá-lo dia a dia, não é um título que se ganha e pronto”, acrescentou.

Esse “distintivo de qualidade” é um chamariz para o turismo e pode também ser colado nos produtos da ilha, por exemplo, através de uma marca ou de um selo de qualidade, algo em que El Hierro está agora a trabalhar, em parceria com produtos e empresas.

Entre outras vantagens de ter esta classificação da UNESCO está ainda o acesso a financiamentos específicos, destinados a aumentar o desenvolvimento da ilha, a criar postos de trabalho para a comunidade e a concretizar projetos que fazem falta localmente, acrescentou.

Há 738 reservas da biosfera da UNESCO no mundo, 24 delas em países de língua oficial portuguesa, no Brasil, em Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.





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