Impressionante diversidade na tolerância ao calor pode ajudar a proteger os recifes de coral
Uma nova investigação da Southern Cross University descobriu uma variação anteriormente não documentada na tolerância ao calor dos corais na Grande Barreira de Coral, dando esperança de que os recursos genéticos dos próprios corais possam ser a chave para ajudarmos na sua recuperação e adaptação.
Num estudo publicado na revista Communications Earth and Environment, os investigadores mediram os limiares de branqueamento de mais de 500 colónias do coral de mesa, Acropora hyacinthus, através de um sistema experimental portátil que foi utilizado no mar em 17 recifes da Grande Barreira de Coral.
O estudo foi liderado pela candidata a doutoramento da Southern Cross University, Melissa Naugle, com uma equipa da Southern Cross University, do Instituto Australiano de Ciências Marinhas (AIMS), da Universidade de Queensland e do Instituto de Investigação para o Desenvolvimento na Nova Caledónia, no âmbito do Programa de Restauração e Adaptação dos Recifes (RRAP).
“Encontrámos corais tolerantes ao calor em quase todos os recifes que estudámos, destacando como os corais em toda a Grande Barreira de Coral podem conter recursos genéticos importantes para a proteção e restauração”, diz Melissa.
“Esta é uma notícia importante para os corais, que estão a sofrer o 4º evento global de branqueamento em massa e temperaturas do mar sem precedentes no verão na Grande Barreira de Coral. A variação natural da tolerância ao calor é crucial para que os corais se adaptem ao aquecimento climático e para o sucesso das iniciativas de restauração”, acrescenta.
Estas conclusões foram confirmadas noutro estudo recente do coautor e candidato a doutoramento da Southern Cross University, Hugo Denis, que também encontrou uma variação generalizada na tolerância ao calor numa espécie diferente de coral.
Os resultados deste trabalho têm implicações importantes para o futuro dos recifes de coral.
“As diferenças entre os corais individuais são o combustível para a seleção natural produzir gerações futuras de corais mais tolerantes”, afirma Line Bay, coautora e investigadora principal sénior e diretora do programa de investigação da AIMS.
“Desenvolver uma compreensão sólida desta variação é crucial para entender como os corais se adaptarão ao aquecimento climático”, adianta.
Cedric Robillot, Diretor Executivo do Programa de Restauração e Adaptação dos Recifes, sublinha que “este trabalho destaca a disponibilidade de corais naturalmente tolerantes ao calor que podem ser alvo do RRAP, como um esforço de restauração e conservação de recifes em grande escala, para proteger este ecossistema crítico do aquecimento das temperaturas oceânicas que já estão bloqueadas pelas mudanças climáticas”.
Ensaios com corais mais tolerantes ao calor
Emily Howells, coautora e Investigadora Sénior da Southern Cross University e Chefe de Projeto no Programa de Restauração e Adaptação de Recifes, explica que a variação da tolerância ao calor “pode ser útil para programas de restauração, como a reprodução seletiva, que pode acelerar a adaptação para produzir descendentes mais bem adaptados a águas mais quentes”.
No entanto, acrescenta, este resultado “depende de quanto da variação da tolerância ao calor que observamos está ligada a variantes genéticas hereditárias”.
Os corais mais tolerantes ao calor identificados neste estudo estão atualmente a ser utilizados para um ensaio de reprodução seletiva através do Reef Restoration and Adaptation Program.
O estudo relatou não apenas a extensão da variação na tolerância ao calor dos corais, mas também investigou as fontes subjacentes a essa variação.
“Neste trabalho, explorámos muitas das influências ambientais que moldam a tolerância ao calor, como a história térmica, as concentrações de nutrientes e as algas simbióticas que vivem no interior dos tecidos dos corais”, afirma Melissa.
Embora o estudo tenha concluído que os fatores ambientais, como a temperatura do mar, são importantes para influenciar a tolerância ao calor, existe uma variação substancial na tolerância ao calor que não pode ser explicada pelo ambiente e que se deve provavelmente a diferenças genéticas entre corais individuais.
“A seguir, vamos analisar os dados de sequenciação do ADN destes indivíduos para identificar as variantes genéticas associadas à tolerância ao calor. Isto pode ajudar-nos a compreender o potencial de adaptação das populações naturais de corais e a informar o trabalho de reprodução selectiva”, diz Melissa.
“Embora as iniciativas de restauração, como a reprodução selectiva, possam reforçar as populações de corais, a redução das emissões de gases com efeito de estufa é fundamental para dar aos recifes de coral o melhor futuro possível”, conclui.