Infraestruturas do hidrogénio avançam mas falta regulação a nível europeu
O presidente executivo da REN, Rodrigo Costa, disse ontem que as infraestruturas para o hidrogénio verde estão “a avançar muito” na Europa, mas falta criar um mercado de procura e um quadro regulatório estável a nível europeu.
Rodrigo Costa falava em Madrid, numa jornada de debates dedicada ao hidrogénio promovida pela Enagás, a operadora de redes de transporte de energia de Espanha e congénere da REN – Redes Energéticas Nacionais.
Para o presidente executivo (CEO) da REN, o hidrogénio verde (produzido a partir de fontes de energia renovável) é “uma oportunidade” para a reindustrialização, a reconversão energética e a maior autonomia da União Europeia, mas é preciso garantir um mercado, criando “novos usos” para haver certeza de que crescerá a procura.
“Estamos a avançar muito a nível da infraestrutura mas não o suficiente na criação de massa crítica”, disse Rodrigo Costa, que sublinhou que em Portugal, por exemplo, 70% da geração de energia elétrica tem origem em fontes renováveis, mas isso é resultado de 20 anos de desenvolvimento e investimento.
Para o CEO da REN, não é possível hoje esperar 20 anos pelo mesmo desenvolvimento do hidrogénio e apelou à criação das condições para ser desenvolvida e criada massa crítica a nível europeu, que é “muito necessária”, nomeadamente com um quadro regulatório estável e seguro, a definição de uma estratégia e a garantia de financiamento de novos projetos e de inovação.
Rodrigo Costa realçou que todas estas questões têm de ser definidas a nível da União Europeia, que tem de assumir “um papel crucial”, não tendo sentido quadros regulatórios nacionais diferentes ou calendários que não sejam simultâneos na generalidade dos estados-membros.
O gestor falava numa mesa redonda com os CEO de outros operadores de redes de transporte de energia europeus, com todos a partilharem da necessidade de um quadro regulatório estável e claro que possibilite o desenvolvimento pleno do hidrogénio na Europa.
Os participantes destacaram que 2024 foi um ano fundamental para o desenvolvimento de novas infraestruturas para o hidrogénio verde na Europa, incluindo para o projeto do gasoduto H2MED acordado entre Portugal, Espanha e França.
O presidente executivo da Enagás, Arturo Gonzalo, considerou que em 2024 a União Europeia, em diversos documentos e classificações de projetos para financiamento, “confirmou a sua aposta no hidrogénio” e o ano será lembrado como “um antes e um depois” a este nível.
Em relação ao H2MED, afirmou que se se consolida “como o corredor pan-europeu de hidrogénio no mais avançado da Europa”.
O H2MED integrou no ano passado a lista de projetos de interesse comum da União Europeia.
Antes, no final de 2022, a REN e os homólogos espanhol, Enagás, e franceses GRTgaz e Teréga, assinaram um memorando de entendimento para colaboração no desenvolvimento do H2MED, “no seguimento do mandato dos Governos dos três países”.
O objetivo da parceria é disponibilizar a infraestrutura a partir de 2030.
O projeto prevê uma ligação terrestre entre Celorico da Beira e Zamora, em Espanha (CelZa, com 248 quilómetros) e outra submarina entre Barcelona e Marselha (BarMar, de 455 quilómetros).
O financiamento europeu do H2MED pode chegar aos 50% do custo estimado do projeto, que Portugal, Espanha e França calculam que seja de 350 milhões de euros no caso do CelZa e de 2.500 milhões no BarMar, segundo um documento divulgado no final de 2022.