Interplantação: Diversificar culturas agrícolas para reduzir a abundância de pragas



Tal como populações de animais com fraca diversidade genética podem ficar mais vulneráveis a doenças e e ter uma menor capacidade para adaptação a novas condições ambientais, também uma agricultura que aposte exclusivamente num grupo limitado de espécies pode tornar-se presa fácil para pragas.

Num artigo publicado na revista ‘Journal of Applied Ecology’, investigadores do Departamento de Entomologia e Nematologia da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos da América, defendem que a mistura de culturas pode ser uma estratégia eficaz para atenuar os impactos nocivos de insetos e outros organismos que podem pôr em risco a produção agrícola. O segredo? Plantar várias espécies, ou interplantação.

Ao analisarem 44 campos de cultivo em seis continentes, com culturas de couve, abóbora, algodão e cebola, os cientistas perceberam que quando essas espécies de grande importância económica eram plantadas com outras espécies vegetais, como plantas aromáticas, os impactos da predação por insetos diminuíam. No entanto, não é uma ‘solução de tamanho único’.

Philip Hahn, um dos investigadores, explica que “no geral, a interplantação provou ser muito eficaz contra as pragas”, mas aponta que o grau de eficácia variou consoante as espécies de insetos e as suas preferências alimentares. Além disso, também o tipo de cultura principal influenciou a eficácia da interplantação, com as culturas de couve e de abóbora a demonstrarem um maior grau de resistência do que as de cebola e algodão.

Uma das técnicas de interplantação mais usadas, segundo estes cientistas, é a plantação de espécies sem valor económico em torno das parcelas cultivadas, para repelir ou intercetar os insetos que poderiam arruinar as culturas. Mas argumentam que plantar essas espécies menos economicamente importantes dentro dos campos de cultivo pode também ajudar no combate às pragas, para impedir que os insetos possam “localizar as culturas principais”.

“Nos estudos que examinámos, percebemos que a interplantação era mais eficaz para pragas generalistas que se alimentam de uma variedade de culturas”, afirma Hahn, acrescentando que poderá não ser o mais indicado para a proteção das culturas face a espécies de insetos com regimes alimentares mais especializados. Isto, porque esses insetos evoluíram lado a lado com as suas espécies vegetais de eleição, pelo que é pouco provável que a presença de outras plantas os dissuada da predação.

Ainda assim, os autores acreditam que a plantação de mais do que uma espécie vegetal pode, realmente, ser uma forma eficaz e ambientalmente sustentável de reduzir os impactos das pragas nas culturas agrícolas, diminuindo a necessidade da utilização de produtos químicos que podem não só danificar o solo e várias outras espécies de animais, plantas e fungos, e comprometer a qualidade dos cursos de águas subterrâneos, mas também afetar a qualidade das próprias plantações.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...