“Lacunas e inconsistências” legais fragilizam combate global ao tráfico de tigres



A persistência de “lacunas e inconsistências” nas leis dos países que albergam tigres selvagens podem comprometer os esforços globais para combater o tráfico desses grandes felídeos.

Um relatório divulgado esta semana, da autoria das organizações não-governamentais WWF e Traffic, em colaboração com a consultora jurídica Legal Atlas, revela que é preciso fazer mais para impedir que décadas de conservação de tigres redundem em fracasso devido a leis frágeis e ineficazes dos Estados onde a espécie ainda existe na Natureza.

Estima-se que mais de 3.300 tigres foram apreendidos entre janeiro de 2000 e junho de 2022, a caminho dos mercados negros alimentados pelo tráfico de espécies selvagens. A maior parte das apreensões, cerca de 85%, aconteceram em países onde os tigres ocorrem em estado selvagem, o que, segundo os autores da análise, mostra que se continua a falhar na interrupção das rotas de tráfico que fornecem mercados nacionais e internacionais.

Dizem as organizações que “quadros legais fortes são fundamentais” para combater o tráfico de tigres, em conjunto com a aplicação efetiva dessas leis, o envolvimento das comunidades locais e a redução da procura por produtos derivados de tigres.

O relatório abrangeu 12 dos 14 países que incluídos na atual área de distribuição dos tigres: Bangladesh, Butão, Camboja, China, Índia, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Nepal, Tailândia e Vietname. A Rússia e o Cazaquistão não foram incluídos na análise.

“Os governos têm de eliminar lacunas legais e construir sistemas legais que possam fazer frente ao crime organizado e transnacional”, afirma, em nota, Heather Sohl, responsável da divisão de comércio de tigres da WWF.

Medicamento para tratar reumatismo feito a partir de partes de tigre vendido em mercado em Myanmar. Foto: WWF-Myanmar.

Para a conservacionista, proteger os tigres do tráfico, reforçar o peso da lei e garantir que os crimes contra a vida selvagem são “tratados como crimes graves” está dependente de “quadros legais eficazes”.

O relatório apela aos países em cujos territórios ainda existem tigres selvagens para criminalizarem toda e qualquer forma de tráfico, incluindo nas plataformas digitais, para clarificarem as suas definições legais de “comércio de vida selvagem” para evitar ambiguidades e lacunas, e para criarem unidades permanentes constituídas por agências de aplicação de lei com plenos poderes de investigação “para aplacar o comércio ilegal de vida selvagem”.

“As lacunas legais são as melhores armas dos traficantes, e o pior inimigo dos tigres”, diz James Wingard, da Legal Atlas.

“A nossa análise expõe como essas falhas na lei – desde instalações de cativeiro não regulamentadas e a ausência de leis direcionadas para híbridos de tigres a falhas na criminalização de toda a cadeia comercial – criam oportunidades que os traficantes podem facilmente explorar”, avisa o primeiro autor do relatório, acrescentando que “fechar essas lacunas é essencial se queremos dar uma hipótese aos tigres, nos tribunais e, mais importante, na Natureza”.

Peles de tigres à venda numa loja no Vietname. Foto: Adam Oswell / WWF.

Os tigres estão classificados como “Em Perigo” de extinção na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza. As estimativas apontam para que restem aproximadamente 5.700 tigres a viverem em liberdade nos seus habitats naturais.

Em tempos ocorrendo um pouco por toda a Ásia, da Turquia ao Extremo Oriente, passando pelo sudeste asiático, atualmente estão limitados a uma dezena de países, como a China, a Índia, a Indonésia, a Malásia, Myanmar, o Nepal e a Rússia, ocupando menos de 7% da sua área de distribuição histórica.

A perseguição humana, a perda de presas, a caça furtiva e o tráfico das suas peles, carne e ossos, a destruição e fragmentação do seu habitat e a captura para cativeiro e reprodução ilegais são algumas das maiores ameaças que têm empurrado cada vez mais os tigres para o limiar da extinção.






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