“Longevidade extrema”: Baleias-francas podem, afinal, viver mais de 130 anos
Um trio de cientistas dos Estados Unidos da América, África do Sul e Austrália revela que as baleias-francas, afinal, podem atingir mais de 130 anos de idade, quase o dobro de estimativas apresentadas por investigações anteriores, apontando para o que dizem ser uma “longevidade extrema”.
Num artigo publicado recentemente na revista ‘Science Advances’, a equipa analisa dados recolhidos ao longo de quase 40 anos de estudo desse grupo de baleias, focando-se em duas espécies em particular: a baleia-franca-austral (Eubalaena australis) e a baleia-franca-do-atlântico-norte (Eubalaena glacialis).
Através dessas informações, os investigadores calcularam a longevidade média de cada uma das espécies, calculando que as baleias-francas-austrais têm uma esperança média de vida de 70 a 80 anos, podendo, contudo, ultrapassar os 130 anos. No caso das baleias-francas-do-atlântico-norte, a equipa estima uma esperança média de vida bastante menor, de cerca de 22 anos, sendo que são poucos os indivíduos que vão além dos 50 anos de idade.
Embora sejam espécies muito próximas uma da outra, em termos evolutivos, o forte contraste no que toca à longevidade está relacionado com os impactos causados pelos humanos.
Greg A. Breed, da Universidade do Alaska e primeiro autor do artigo, explica, em comunicado, que as baleias-francas-do-atlântico-norte, já consideradas uma espécie significativamente ameaçada de extinção (a União Internacional para a Conservação da Natureza estima que existem menos de 250 indivíduos maturos), têm uma esperança média de vida “invulgarmente curta” quando comparada com outras baleias.
Segundo o cientista, as baleias-francas-do-atlântico-norte ficam muitas vezes presas em artes de pesca ou morrem devido a colisões com embarcações. Além disso, estão altamente vulneráveis à malnutrição e à falta de alimento, algo que poderá estar associado a “alterações ambientais que não compreendemos totalmente”, salienta.
Os investigadores sugerem que a falta de informação sobre a vida das baleias levou a que fossem feitas estimativas muito aquém da realidade. Só algures em meados do século passado é que se começou a estudar a fundo a longevidade destes gigantes marinhos, mas, devido à caça, nessa altura não restavam muitos indivíduos com idade avançada que pudessem ser estudados.
“Por isso, assumimos que não viviam assim tanto tempo”, reconhece Breed.
Saber, ao certo, quantos anos vivem as baleias, especialmente espécies ameaçadas de extinção, é fundamental para os esforços que visam a sua conservação. Em populações que sofreram grandes perdas, a sua recuperação poderá levar séculos. Assim, para animais que podem viver mais de 100 anos, e chegar até aos 150, e que dão à luz apenas uma cria a cada 10 anos, “é expectável uma recuperação lenta”, aponta.
Mas, quando falamos de baleias, a sobrevivência das populações, ou mesmo da espécie como um todo, não se resume ao aumento do número de indivíduos. As baleias são animais que dependem fortemente do conhecimento transmitido dos indivíduos mais velhos e mais experientes para os mais novos que ainda estão a aprender como funciona o mundo que os rodeia. Por isso, sem a orientação dos “anciãos” do grupo, os mais novos poderão ter mais dificuldades em singrar.
A equipa quer agora alargar o trabalho a outras espécies de baleias de barbas (que não têm dentes e se alimentam por filtração), para perceber se a grande longevidade poderá ser um fenómeno que extravasa o grupo das baleias-francas. O principal objetivo é tentar perceber como é que a baleação afetou as populações atuais de baleias e, se possível, prever quando poderão recuperar.