Mais de 100 mil cetáceos “massacrados” em 30 anos na Gronelândia por falta de regulamentação da captura



Uma investigação da organização não-governamental Environmental Investigation Agency (EIA) revela que nos últimos 30 anos mais de 100 mil pequenos cetáceos foram “massacrados” pela pesca não regulada ao largo da costa da Gronelândia e denunciam a falta de proteção desse grupo de mamíferos.

No total, foram visadas pela captura sete espécies distintas de cetáceos, mas apenas duas – beluga (Delphinapterus leucas) e o narval (Monodon monoceros) estão abrangidas por quotas anuais formalmente estabelecidas. Num artigo entregue ao Comité Científico da Comissão Baleeira Internacional (IWC), organismo que regula a captura de baleias a nível global, os cientistas argumentam que “algumas das populações visadas [pela captura] estão a experienciar declínios significativos em abundância, ao ponto de a sua recuperação poder ficar em risco”.

Em 1982, a IWC, confrontada com os impactos devastadores da caça à baleia nas populações desses animais, implementou uma moratória global à pesca comercial de todas as espécies e populações de baleias, proibição que vigora nos dias de hoje em todo o mundo, exceto na Noruega e na Islândia. No entanto, pequenos cetáceos, como golfinhos e algumas baleias com dentes (odontocetos), não são abrangidos pela moratória.

 

Beluga (Delphinapterus leucas).
Foto: Sheila Sund / Wikimedia Commons

Sarah Dolman, da EIA e uma das autoras do artigo, explica que a gestão das populações desses cetáceos é da responsabilidade dos governos nacionais, defende que essas espécies deveriam também ser protegidas pela aplicação de limites máximos de captura.

Da análise, verificou-se que em 2022 foram capturados cerca de 4200 pequenos cetáceos, “a maior captura direta e legal de cetáceos do mundo”, diz Dolman, dos quais 3447 eram de espécies não reguladas por quotas.

Apesar dos limites impostos à captura de belugas e de narvais, isso não impede que as populações locais não sejam extintas devido à exploração excessiva, alerta a também investigadora da Universidade de Glasgow.

Das espécies caçadas sem quotas na Gronelândia fazem parte o golfinho-de-flancos-brancos-do-atlântico (Lagenorhynchus acutus), o golfinho-de-bico-branco (Lagenorhynchus albirostris), o boto (Phocoena phocoena), espécie globalmente vulnerável ao risco de extinção, a orca (Orcinus orca) e a baleia-piloto (Globicephala melas).

Orca (Orcinus orca).

Dolman afirma que o governo da Gronelândia comprometeu-se a estabelecer este ano quotas para a captura de botos, “mas não sabemos se as quotas já foram definidas” ou se estão em linha com as orientações científicas.

E aponta que os números de cetáceos capturados podem ser muito superiores aos conhecidos, uma vez que, fruto de algumas técnicas de captura, alguns animais podem afundar-se, acabando por não ser contabilizados.

À pesca desregrada, diz Dolman, somam-se “as crescentes preocupações sobre as pressões humanas nos pequenos cetáceos na Gronelândia, como as alterações climáticas, a poluição sonora pelas atividades industriais (incluindo o tráfego marítimo) e a captura acidental em artes de pesca”.

“Trabalharemos para garantir a proteção das populações de pequenos cetáceos na Gronelândia e exigiremos ao seu governo para regular urgentemente a captura de subsistência de todos os pequenos cetáceos”, afiança, pois essa será a única forma de assegurar a sustentabilidade das populações locais desses mamíferos marinhos.





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