Mais de 100 Papagaios-do-mar e Tordas-mergulheiras arrojados mortos nas praias da Região Oeste



Nos últimos dias, especialmente desde sexta-feira, foram arrojados mortos nas praias do Concelho de Torres Vedras 37 Papagaios-do-mar e 41 Tordas-mergulheiras, mas o número aumenta se incluir as aves marinhas que lhe foram reportadas pelos seguidores, disse Lídia Nascimento, ambientalista da organização Mar à Deriva – Adrift Sea, à Green Savers. O ICNF diz que “está a acompanhar a situação”.

“Nos últimos dias, especialmente desde sexta-feira, encontrámos 37 Papagaios-do-mar e 41 Tordas-mergulheiras. Incluindo os números que nos foram reportados pelos nossos Marujos, temos os seguintes totais:  84 Papagaios-do-mar e 52 Tordas-mergulheiras”, sublinha a ambientalista.

Lídia Nascimento explica que estes últimos números “foram enviados aos nossos amigos da @mestres.do.oceano” e que “fazem parte da contagem centralizada, pois só assim se consegue entender a dimensão do problema”.

O presidente desta associação, Afonso Castanheira disse ao “Público” que, desde o fim-de-semana de 6 e 7 de janeiro, o grupo tem recebido um “grande número de notificações de arrojamentos de papagaios-do-mar, registando-se mais de 158 esta terça-feira, juntamente com algumas tordas-mergulheiras – um número que continua a aumentar, à medida que Afonso Castanheira e dezenas de voluntários percorrem as praias à procura de mais aves”.

“Apesar de alguns deles terem sido encontrados vivos, todos os 158 papagaios estão, atualmente, mortos. Só durante a tarde desta terça-feira, foram recolhidos pelo presidente da associação 34 papagaios mortos e 15 ainda com vida, que vão ser encaminhados para reabilitação”, revela a mesma fonte.

Tempestade e fortes ventos podem ser causa da morte

Lídia Nascimento explica que a tempestade tem estado a ser referida como causa de morte, “e poderá ser, mas não conseguimos deixar de pensar que todos os anos há tempestades e nunca assistimos a nada parecido com estes números. Além disso, estão a arrojar em todo o país, até em Porto Santo e no Algarve, onde não nos parece provável que a causa seja a tempestade, mas não somos peritos. Seria muito bom saber o resultado das necropsias/análises e descartar-se outras hipóteses”, alerta.

Já o presidente da associação ambientalista Mestres do Oceano, segundo o “Público”, atribui os arrojamentos às tempestades e ventos fortes dos últimos dias, que “podem ter limitado a caça – o que justifica a fraqueza dos animais – e a deslocação de papagaios inexperientes, que poderão ter sido empurrados”.

No entanto, Afonso Castanheira alerta que o arrojamento de mais de uma centena de aves “é invulgar e ‘um exemplo perfeito’ da forma como as alterações climáticas podem afetar as aves marinhas.

Segundo um estudo publicado recentemente na revista científica Current Biology, todos os invernos, ao longo das costas da Europa e da América do Norte, são encontradas milhares de carcaças de aves marinhas subnutridas. Uma equipa internacional seguiu o rasto de mais de mil aves para ver o que ocorre durante toda a viagem de migração e o desfecho foi apresentado na revista científica Current Biology, sugerindo que as aves morrem já que são incapazes de se alimentar durante os ciclones, acabando por ficar esfomeadas e morrer. O oceano Atlântico Norte é palco de numerosos ciclones todos os invernos e os mais fortes acabam por levar à morte de milhares de aves.

ICNF diz que estão a proceder a análises para tentar apurar a causa da morte

A Green Savers questionou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) sobre as razões destes acontecimentos que sublinhou que a causa destes arrojamentos “ainda não é conhecida”, explicando que, nesta altura do ano, estas aves passam ao largo da costa portuguesa nas suas rotas migratórias.

“Todos os anos, se verificam arrojamentos de aves marinhas, no litoral português, os quais podem ocorrer devido: a tempestades no mar, que dificultam o acesso a alimentação e podem causar exaustão a aves que percorrem milhares de quilómetros; à utilização de redes de pesca ilegais; ou a doenças, algumas delas potencialmente transmitidas a humanos”, afirmou o  ICNF.

Por isso, acrescenta, os cidadãos que detetem aves mortas, ou a precisar de cuidados na costa, “não devem manuseá-las, mas sim alertar as autoridades”.

Sendo a autoridade nacional de conservação da natureza, o ICNF “está a acompanhar a situação do surgimento em algumas praias, sobretudo na zona Oeste (Peniche e Lourinhã), de um elevado número de papagaios-do-mar mortos ou debilitados”.

“A causa destes arrojamentos ainda não é conhecida. O ICNF tem equipas no local, em articulação com a Proteção Civil Municipal e Polícia Marítima, tendo sido recolhidas dezenas de aves vivas debilitadas e também vários exemplares mortos”, explicou a mesma fonte.

O ICNF revelou ainda que as aves “estão a ser encaminhadas para o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (CRAM) do ECOMARE, onde também se estão a proceder a análises para tentar apurar a causa da morte”.

Fulmar homologado por CPR e Airo que não aparecia por cá há anos

Entre as várias aves marinhas encontradas, Lídia Nascimento alertou para o facto de ter encontrado um Fulmar, que teve de ser homologado pelo Comité Português de Raridades (CPR) e um Airo, que “até há uns anos tínhamos milhares de casais a nidificar nas Berlengas, mas de há uns anos para cá, nem um”, sublinhou.

Fulmar

 

Veja a a galeria com as fotos dos vários arrojamentos:

 

NOTA: Já esta quinta-feira, quando este artigo já tinha sido publicado, Lídia Nascimento disse à Green Savers que, hoje na Praia do Navio, Santa Cruz, Torres Vedras, encontraram “mais 13 Papagaios-do-mar e 4 Tordas-mergulheiras, todos mortos”:

13-Papagaios-do-mar-e-4-Tordas-mergulheiras

 

 





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