Mais de 200 espécies endémicas extinguiram-se na Macaronésia. Humanos foram a principal causa



As ilhas oceânicas são consideradas focos de biodiversidade. Isoladas das dinâmicas continentais, promovem o surgimento de espécies únicas de animais e de plantas.

No entanto, esse mesmo isolamento, conjugado com espécies que tendem a não ter grandes capacidades de defesa e com teias ecológicas relativamente frágeis, podem também ser focos de extinção. Especialmente perante ameaças como a presença humana e espécies invasoras.

Essa história não deixa de fora a Macaronésia, uma região biogeográfica que inclui os arquipélagos dos Açores, da Madeira, das Canárias e de Cabo Verde. E um grupo de investigadores embarcou na tarefa de cronicar as extinções conhecidas até ao momento de espécies endémicas da região.

Num artigo publicado esta semana na revista ‘PNAS Nexus’, é revelado que há 220 registos de extinção que representam 3,1% das espécies endémicas terrestres da Macaronésia. Desse grupo de espécies que desapareceram constam 111 caracóis terrestres, 55 artrópodes, 27 aves e 15 répteis, incluindo várias espécies de tartarugas gigantes.

Os cientistas concluem que metade das espécies de aves endémicas da Macaronésia, que não existem em mais lado algum, já foram extintas. Entre elas estão o Rallus nanus, da ilha açoriana de São Jorge, o mocho-d’orelhas Otus mauli, da Madeira, o fringilídeo (família dos tentilhões, pintassilgos e canários) Chloris aurelioi, da ilha de Tenerife do arquipélago das Canárias, e a codorniz Coturnix centensis, endémica da ilha cabo-verdiana de São Vicente.

No entanto, o grupo das plantas será o que tem menos registos de extinção, sendo que os fungos e líquenes não têm qualquer extinção local documentada, de acordo com a investigação, embora isso se possa dever à ausência de dados sobre essas espécies.

No artigo, é revelado que metade das 220 extinções registadas está marcadamente associada à chegada de colonos portugueses e castelhanos à Macaronésia no século XV, acompanhados dos seus animais domésticos.

Ainda que reconheçam que algumas extinções se possam dever a alterações climáticas e a eventos de atividade vulcânica, os cientistas dizem que o ritmo de extinções terá aumentado mais de 12 vezes com a chegada dos humanos.

Perante esse cenário, os autores, que descrevem este trabalho como “a primeira compilação sistemática de extinções de espécies endémicas” nos arquipélagos da Macaronésia, defendem que medidas de conservação e restauro dos habitats devem ser uma prioridade para travar o ritmo de extinções nessa região do mundo, bem como noutras ilhas oceânicas.

“As perdas sintetizadas no presente trabalho servem para demonstrar o impacto devastador da atividade humana na biota da Macaronésia”, escrevem os cientistas no artigo.






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