Mais de metade dos lagos do planeta estão a perder água. A culpa é das alterações climáticas e do consumo excessivo



Os lagos e reservatórios de água doce estão a ‘encolher’ em todo o mundo. Entre 1992 e 2020, terão perdido cerca de 22 mil milhões de toneladas de água todos os anos, o equivalente a toda a água consumida nos Estados Unidos da América (EUA) durante 2015 ou 17 vezes o volume do Lago Mead, o maior reservatório de água doce desse país.

A conclusão é de uma investigação de uma equipa internacional de cientistas, que analisou imagens de satélite de 96% de todos os lagos naturais e de 83% de todos os reservatórios que existem no planeta.

Os investigadores afirmam que as alterações climáticas, o consumo humano excessivo e o assoreamento são os fatores que mais têm contribuído para a diminuição da água doce armazenada nesses corpos de água.

“Esta é a primeira avaliação abrangente das tendências e causas da variabilidade do armazenamento global de água em lagos usando um conjunto de satélites e modelos”, explica Fangfang Yao, investigador da Universidade de Colorado, em Boulder, nos EUA, e primeiro autor do artigo publicado esta quinta-feira na revista ‘Science’.

A perda de água dos lagos não está apenas a acontecer nas regiões mais secas do planeta, mas está também a ser observada nas zonas mais húmidas, destacando os cientistas que “as perdas em lagos de zonas tropicais húmidas e nos lagos do Ártico indicam tendências de seca muito mais abrangentes do que se pensava anteriormente”.

Quanto aos reservatórios de água doce, sobretudo os criados pela implementação de infraestruturas como as barragens, as perdas ao longo das últimas décadas têm sido causadas pelo excesso de sedimentação (assoreamento) que diminui o volume disponível para armazenamento.

Por outro lado, foi possível perceber que, entre 1992 e 2020, o volume de água aumentou em 24% dos lagos analisados. Dizem os autores que esses corpos de água estão localizados sobretudo em áreas pouco povoadas, pelo que o armazenamento não sofre uma grande pressão pela captação excessiva.

Sabendo que cerca de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo vivem nas bacias hidrográficas de lagos que estão em franco decréscimo, os cientistas salientam que é urgente implementar medidas que permitam proteger esses depósitos de água doce – essenciais para o consumo humano e animal, para a biodiversidade, para a pesca e para a irrigação de culturas agrícolas – dos efeitos das alterações climáticas, do sobreconsumo e do assoreamento. Para tal, são precisos sistemas de gestão de água mais sustentáveis, salientam.

“Se o consumo humano é um grande fator de declínio da água armazenada nos lagos, então podemos adaptar e explorar novas políticas para reduzir perdas de larga escala”, afirma Bem Livneh, outro dos coautores.

“Os nossos resultados sugerem que as tendências de perda de água globais são maiores do que antes se pensava”, escrevem no artigo, e alertam que, num planeta cada vez mais quente e com períodos de chuva mais irregulares e menos intensos, o atual padrão de consumo de água, ou um que seja até mais intenso, poderá levar ao desaparecimento total de muitos lagos, sobretudo dos lagos fechados (ou endorreicos), rodeados de terra e que não escoam para nenhum rio ou para o mar.

Os cientistas defendem que são precisos “esforços para uma efetiva conservação da água” e que as perdas que se registaram nas últimas décadas, e que continuam a drenar os lagos e reservatórios, são um aviso acerca do que um futuro mais quente nos poderá trazer.





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