Mapa total do genoma de rinocerontes-brancos-do-norte pode ajudar a resgatar a espécie da extinção



Em todo o mundo, existem atualmente apenas duas fêmeas de rinocerontes-brancos-do-norte (Ceratotherium simum cottoni), sem forma de se reproduzirem naturalmente, pelo que a espécie está atualmente classificada como funcionalmente extinta, fazendo desse mamífero um dos animais mais raros do mundo.

Os rinocerontes-brancos-do-norte, no passado, podiam ser encontrados no Uganda, no Chade, no Sudão do Sul, na República Centro Africana e na República Democrática do Congo, e em 1960 estimava-se que houvesse cerca de 2.360 indivíduos a viverem em regime selvagem. No entanto, sobretudo fruto do aumento da caça furtiva que visava os seus chifres para venda nos mercados negros para fins de medicina tradicional, os seus números caíram a pique nas últimas décadas, empurrando a subespécie para a extinção.

Mas os cientistas e conservacionistas não se dão por vencidos e continuam a tentar recuperar os rinocerontes-brancos-do-norte. Uma equipa de investigadores acredita que há razões para ter esperança, depois de ter mapeado todo o genoma desses animais.

Os resultados foram publicados este mês na revista ‘PNAS’, num esforço internacional que juntou cientistas do Instituto de Investigação Scripps, da San Diego Zoo Wildlife Alliance e do Instituto Max Planck de Genética Molecular. O objetivo era criar uma base de referência genética para ajudar a afinar as tecnologias de reprodução assistida em cativeiro.

“O que é tão entusiasmante acerca deste progresso é o facto de estarmos cada vez mais perto de conseguirmos resgatar animais que, de outra forma, poderia extinguir-se durante o nosso tempo de vida”, diz, em comunicado, Jeanne Loring, coautora do estudo, para quem o que conseguiram fazer é a versão rinoceronte do Projeto do Genoma Humano, lançado na década de 1990 e que pretendia desvendar os segredos do nosso ADN.

O mapeamento genómico foi possível graças a células de pele recolhidas de um rinoceronte-branco-do-norte macho chamado Angalifu, que viveu num parque zoológico em San Diego, nos Estados Unidos da América, até à sua morte em 2014. As amostras ficaram preservadas criogenicamente no Frozen Zoo, o maior e, com 50 anos de existência, o mais antigo repositório de células vivas do mundo.

Dessa forma, garante Loring, “não estamos a tentar recriar uma espécie a partir de restos de ADN antigo e danificado”, mas sim com base em material genético de alta qualidade. “Não estamos a ressuscitar uma espécie misteriosa”, salienta, “estamos a recuperar uma que ainda conhecemos muito bem”, pelo que, apesar de poder ser tentador, não deve haver comparações com cenários de ficção científica como o Parque Jurássico, pois o material genético não é sujeito a edições ou intervenções de engenharia.

O derradeiro objetivo é criar embriões saudáveis e implantá-los em “barrigas de aluguer”, cuidando das crias em ambientes protegidos.

“O rinoceronte é grande, gentil e inesquecível. É o símbolo perfeito para o que a ciência pode fazer para combater a extinção”, diz a investigadora.






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