Mau tempo: Sintra estima 23 mil árvores caídas em privados, a juntar a 98 mil em áreas públicas



A autarquia sintrense estima que 23 mil árvores tenham caído em terrenos privados da Serra de Sintra, devido à depressão Martinho, a juntar às 98 mil em áreas públicas, enquanto proprietários de quintas admitem para já números mais modestos.

“Os danos provocados pela depressão Martinho levaram à queda de milhares de árvores e, consequentemente, ao risco de aluimento de terras” e “estima-se que tenham caído cerca de 100 mil árvores em áreas públicas e aproximadamente 23 mil árvores em propriedade privada”, afirmou à Lusa fonte oficial da Câmara de Sintra.

A sociedade Parques de Sintra-Monte da Lua (PSML), estimou que a tempestade provocou a queda de 98 mil árvores e afetou 280 hectares (ha) dos cerca de mil sob a sua gestão, no perímetro florestal, sem contar com os danos nas propriedades privadas.

“É-nos difícil, a nós, privados, que não de uma forma muito empírica, dar números. Nós não temos meios para sobrevoar as propriedades e, de facto, verificarmos com alguma exatidão os estragos até lá chegarmos. Posso dizer que, na minha propriedade, há zonas onde ainda não chego sequer”, afirmou Manuel Cavalleri.

Embora sem dados precisos, o dirigente da Associação de Proprietários de Quintas na Serra de Sintra (APQSS) estimou que na sua propriedade de mais de 20 ha, entre a Pena e os Capuchos, tenham sido afetadas umas “cinco centenas de árvores”, com alguma dimensão, avançando que noutra quinta “a estimativa será entre mil e mil e quinhentas árvores”, de pinheiros-bravos, “com algum interesse”, e os estragos sejam “um bocadinho generalizados”.

“No arvoredo, estamos a falar de cinco a seis mil árvores importantes nas nossas quintas”, arriscou o engenheiro florestal, sobre as consequências da depressão Martinho, na noite de 19 para 20 de março, registando-se chuva intensa e ventos com rajadas que atingiram 169 quilómetros/hora no Cabo da Roca.

Além dos danos em postes de energia elétrica, obrigando a recorrer durante “três semanas” a um gerador, foram danificados “pinheiros, carvalhos, cedros” e outras espécies da flora de Sintra, não contando com acácias, que tenta eliminar por serem invasoras, e “um ou outro telhado de algum anexo”.

O proprietário explicou que a maioria das quintas “são todas viradas a norte, mas quem está mais perto da cumeada”, como a sua ou a Tapada da Capela, também sofreu “alguns estragos”, enquanto, do lado sul, não houve tantos danos, porque a empresa municipal Cascais Ambiente “tem feito um trabalho interessante”, em contraste com os baldios do lado de Sintra, onde o “abandono foi sucessivo e contínuo”.

A APQSS, de acordo com a presidente, Rita de Castro Neto, junta 28 propriedades que variam entre um e mais de 20 ha, representando “cerca de 35 a 40% da serra”, e a quase totalidade dos proprietários de quintas privadas na área da Paisagem Cultural, classificada pela UNESCO, tendo por objetivo a conservação, manutenção e promoção da sustentabilidade do património.

A proprietária de seis hectares, entre Seteais e Galamares, lamentou a falta de contacto de entidades oficiais após o mau tempo e de “informação sobre os cortes” de estradas, “tirando um edital” enviado aos proprietários para limparem os terrenos.

“O único contacto que eu tive da parte das autoridades foi um edital, em correio registado, coisa que eu nunca tinha visto, a obrigar-me a limpar os estragos da tempestade até 31 de maio”, avançou Cavalleri, que teria gostado que “a Proteção Civil, o Parque Natural [de Sintra-Cascais] ou a câmara municipal” lhe tivessem perguntado se “tinha estragos, precisava de maquinaria pesada” ou “de contactos”.

“Eu não queria que me fizessem a limpeza, mas se calhar, numa gestão de um espaço património mundial, seria interessante uma maior interligação com os privados. Portanto, podíamos trabalhar todos de uma maneira mais consertada”, advogou.

A fonte oficial da autarquia explicou que, através do Serviço Municipal de Proteção Civil, “possui o registo das ocorrências a que foi chamada a intervir ao longo de todo o território do concelho” aquando da passagem da depressão Martinho.

Adicionalmente, “no perímetro florestal, efetuou o levantamento dos danos em comparação com as imagens de satélite, sendo esta uma ferramenta crucial na gestão dos trabalhos de limpeza em curso”, acrescentou o gabinete do presidente da autarquia, Basílio Horta (PS).

A PSML, no início de abril, avançou que, através de ‘drones’ (veículo aéreo não tripulado) e inspeções no terreno, “identificou cerca de 200 ha de floresta severamente afetados, dos quais 89 ha registam danos muito graves, totalizando cerca de 93 mil árvores derrubadas”.

“Nas matas e tapadas, especialmente as de Monserrate e de D. Fernando II, registou-se a queda adicional de mais cinco mil árvores em 80 ha”, referiu a sociedade que gere os monumentos e parques da Serra de Sintra, que possui ainda várias estradas condicionadas para limpeza.






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