Mineração sem benefícios económicos duradouros no Brasil

Os benefícios económicos da mineração no Brasil duram pouco, mas os danos ambientais são duradouros e o desflorestamento aumenta, destacaram investigadores brasileiros e austríacos num artigo publicado ontem na revista científica Nature Communications.
Sob a coordenação do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA), especialistas da Universidade de Economia de Viena (WU), na Áustria, e da Universidade de São Paulo (USP), no estado brasileiro de São Paulo, analisaram os efeitos económicos e ambientais de longo prazo da mineração em 5.000 municípios do país sul-americano.
“Nossos resultados mostram que, em muitos casos, o impulso económico [da mineração] dura pouco e é acompanhado por danos ambientais duradouros”, disse o principal autor do estudo, Sebastian Luckeneder, num comunicado divulgado em Viena.
A investigação científica distingue entre a mineração industrial, operada por empresas e com autorizações legais e que não está vinculada à perda de floresta, da mineração ilegal, intimamente ligada ao desflorestamento.
Pesquisadores austríacos e brasileiros concluíram que em ambos os casos não há benefícios económicos de longo prazo para as regiões onde a mineração ocorre.
“Embora a mineração industrial às vezes traga crescimento económico de curto prazo, esses benefícios geralmente desaparecem em poucos anos”, destacou, no comunicado, a coautora Juliana Siqueira-Gay da USP.
“Em algumas regiões, já vemos até sinais de declínio económico, tanto nas áreas de mineração quanto nos municípios vizinhos”, acrescentou.
Os investigadores concluíram que os benefícios potenciais da mineração industrial dependem dos preços globais das ‘commodities’, e, por isso, consideram “a dependência excessiva da mineração como estratégia de desenvolvimento uma séria preocupação”.
Os autores do estudo também instaram os formuladores de políticas públicas do Brasil a imporem regulamentações mais rigorosas à mineração, especialmente em ecossistemas vulneráveis como a Amazónia.
“A mineração continuará sendo necessária para o fornecimento de matérias-primas, mas precisamos parar de tratá-la como uma solução mágica para o desenvolvimento económico”, concluiu o especialista e coautor do IIASA Michael Kuhn.